É preciso abrir mão de várias coisas ao mudar-se de país. A proximidade com a família, os locais onde você cresceu, as comidas que você está acostumado e até o clima com o qual o seu corpo habituou-se a vida toda. Mas é preciso abrir mão da carreira?
Tenho visto pessoas perguntando sobre a imigração para o Canadá e dispostas a vir e trabalhar em qualquer coisa. Não apenas nos meses iniciais mas pelo resto da vida, em troca da tão sonhada qualidade de vida canadense. Bem, eu admiro a coragem dessas pessoas, mas para mim sempre foi essencial que a nossa experiência no Canadá fosse completa também no assunto carreira. Para mim era impressindível continuar no ramo de informática e me desenvolver ainda mais. Para a Adriana o desafio era ainda maior: dar um boost na carreira através de uma formação superior canadense.
Dar alguns passos atrás para depois avançar
Estava bem claro para mim que o início iria exigir alguns sacrifícios. Eu não sabia até onde eu poderia almejar em termos de primeiro emprego devido a falta de experiência canadense e o nível apenas intermediário da língua.
Sim, o nível intermediário de inglês ou francês não é suficiente, principalmente quando o cargo envolve liderança, análise de negócio ou contato com clientes internos e externos. Uma coisa é conseguir falar e entender o que se fala a outra é ser capaz de persuadir, discordar construtivamente e vender uma ideia.
Sabendo dessa limitações eu tracei vários planos: meu plano A era conseguir um cargo exatamente igual ao que eu tinha no Brasil; plano B, algo mais técnico, focado apenas em programação, plano C, aceitar um cargo de nível júnior. E o plano Z: trabalhar em qualquer coisa para pagar as contas.
Para piorar tudo, chegamos ao Canadá em 2009, na rabeira da crise econômica que se instalou na América do Norte em 2007. Nenhuma chance de ficar no plano A, mas após quase três meses de procura árdua de emprego, consegui uma excelente posição mais técnica, meu plano B.
Desenvolvendo a carreira
Enquanto a Adriana estudava e se capacitava para a carreira dela, eu continuei desenvolvendo no meu local de trabalho. Após um ano trabalhando, me senti muito mais adaptado ao mercado de trabalho. O conhecimento do inglês no ambiente trabalho aumentou muito e eu tinha agora a infame experiência canadense. Apliquei para um emprego que exigia 100% da minha capacidade e ainda numa área diferente na qual eu queria me desenvolver. Posso dizer que em cerca de um ano e meio da nossa chegada ao Canadá eu estava de volta a um cargo do mesmo nível que tinha no Brasil e ainda por cima numa empresa multinacional.
Alguns anos depois essa empresa fechou o escritório de Montreal e eu tive que voltar novamente à procura de emprego. Mas agora, já totalmente integrado no mercado de trabalho local, com experiência, referências e indicações e além disso a crise de 2007 já tinha ficado no passado. Eu pude então comprovar uma das coisas que eu sonhava em ter aqui em Montreal: segurança de emprego. Não porque não corri risco de perder o emprego, o que de fato estava para acontecer, mas porque o mercado está sempre a procura de bons profissionais com capacidade e experiência. E uma vez com a experiência local, era fácil encontrar boas oportunidades no mercado. Essa era uma das razões de termos deixado Curitiba, onde 3 ou 4 empresas ditavam toda a demanda do mercado TI.
O caminho da universidade
Enquanto isso, a Adriana seguia um caminho diferente: bacharelado em recursos humanos. Durante o curso ela desenvolveu o francês e aprendeu muito sobre a cultura local. Após a formatura ela pode trabalhar na área de atuação. Hoje trabalha para uma grande companhia de origem quebequense com unidades no Canadá e nos Estados Unidos.
Mesmo estando trabalhando nas carreiras que escolhemos, nem tudo é 100%. Às vezes tenho a impressão de que ainda não consigo desenvolver todo meu potencial, parece que eu preciso de mais tempo e esforço para me comunicar, principalmente por escrito, talvez ainda uma sequela dos tempos onde a língua era insuficiente.
Mas ao longo dos dez anos, vimos que fomos muito abençoados por Deus, que as oportunidades se abriram na hora certa e nosso esforço foi compensado.
Outros patos que imigraram
Quase todos os amigos que vieram ao mesmo tempo que nós para o Quebec estão trabalhando em seu domínio profissional ou iniciaram uma nova carreira aqui, estudando e certificando-se aqui. Tenho amigos engenheiros, enfermeiros, contadores, profissionais de logística todos trabalhando em suas áreas de formação que escolheram. Na verdade os únicos amigos que não ficaram por aqui tiveram a carreira como o principal motivo para mudar de planos em relação ao Canadá, ao ver que a carreira que eles almejavam não existia aqui.
No Canadá é possível ter uma boa qualidade de vida em carreiras que no Brasil seriam consideradas inferiores. Enquanto algumas pessoas sentem-se à vontade independente da carreira que escolheram, outras fazem questão te continuar na carreira na qual investiram anos de estudo e experIência profissional. Pense bem que tipo de pessoa você é antes de aventurar-se em um novo país. Manter uma carreira no Canadá ou mesmo começar uma nova, exige dedicação, mas as oportunidades existem, é só correr atrás.