Atentado terrorista em Ville de Quebec

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No último domingo – 29 de janeiro – fomos surpreendidos com a notícia que um tiroteio tinha ocorrido numa mesquita em Ville de Quebec. Como isso impacta a imagem de que o Canadá é um país seguro? O que isso significa em relação à onda de xenofobia que tem surgido em vários países? Nós brasileiros no Canadá somos também vítima do preconceito e discriminação?

Pelas notícias que temos até o momento existe um único suspeito, no início acreditava-se que eram dois mas no final apenas um foi confirmado e este seria um canadense. O atirador sendo um ocidental e as vítimas imigrantes de religião muçulmana não muda nada, este foi um ato de terrorismo.

Meu dois centavos sobre o acontecido

Em primeiro lugar quero colocar a minha opinião sobre esse e qualquer outro ato terrorista. Quem faz esse tipo de coisa não é por causa de cultura, religião ou visão política. Esses atos são praticados por pessoas doidas, que podem ou não ter a influência externa para alimentar a sua loucura.

A exposição constante na mídia das medidas anti-imigração do atual presidente americano certamente ajudam a incentivar pessoas como esse atirador, mas a decisão de comprar armamento proibido e sair atirando é puramente fruto de uma mente perturbada.

Em segundo lugar, eu quero explicar o impacto de seis mortes na cultura do Canadá e principalmente na província do Quebec onde as taxas de criminalidade vem caindo ano após ano.

Para nós brasileiros, seis mortes pode até não parecer muito, chacinas motivadas pelo tráfico ou mesmo passionais matam centenas no Brasil toda a semana, como essa abaixo.

Homem matou filho, ex-mulher e familiares dela na virada para o ano novo.
12 pessoas foram assassinadas; três estão hospitalizadas.

Talvez por isso eu tenha encontrado comentários tão absurdos nas redes sociais, o coração do brasileiro parece que ficou amortecido. No primeiro momento, quando a identidade do atirador e das vítimas era desconhecida, pessoas ridicularizaram o governo canadense por continuar recebendo refugiados em vez de fechar as fronteiras como EUA tem feito. Isso até perceber que nesse caso os imigrantes eram as vítimas e o vilão um ocidental, um canadense. Depois eu cheguei a ver pessoas comemorando o fato, as quais eu considero serem tão doentes como o próprio atirador.

A verdade é que um fato como esse é estarrecedor numa região com tão pouca criminalidade e já não importa quem são as vítimas ou quem apertou o gatilho. Ville de Quebec é uma das cidades mais seguras dentro de um dos países menos violentos em todo o mundo. Para ter uma ideia de como essa tragédia é um ponto fora da curva veja a tabela abaixo.

homicios ville de Quebec

O gráfico não está errado, o número de homicídios em Ville de Quebec no ano de 2016 foi apenas 1 (um).  Dá para entender como esse fato é completamente estranho para a sociedade envolvida.

Reação canadense

Governantes canadenses, em todas as esferas, se apressaram em vir a público apoiar os familiares das vítimas confirmando que imigrantes, todos eles, são bem vindos.

Nas palavras do prefeito de Montreal, Denis Corderre:

On ne tolère pas la communauté musulmane; la communauté musulmane fait partie de notre société. Ce n’est pas le “eux” et “nous” . L’ensemble représente le “nous” 

[Nós não toleramos a comunidade muçulmana, a comunidade muçulmana faz parte de nossa sociedade. Não existe “eles” e “nós”. O conjunto representa o “nós”.]

O população também se apressou a sair as ruas em solidariedade às vítimas e aos sobreviventes tocados pelo terror. Como pode ser visto na imagem abaixo:

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Preconceito

O preconceito ainda existe, não dá para tapar o sol com a peneira e dizer o imigrante não vai sofrer discriminação, principalmente vindo de uma cultura muito diferente da local.

Existe o preconceito, aberto, o velado e o indireto. Um exemplo de preconceito indireto, uma pessoas completamente aberta aos imigrantes pode preterir um candidato muçulmano a um cargo de atendimento ao público por causa do preconceito de seus clientes.

Agora precisamos entender como uma pessoa dita “normal” passa de um simples bully na internet a um atirador sanguinário. Talvez Freud explique.

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