A rede de lojas departamentos Target, desembarcou no Canadá em 2013 e acaba de anunciar que vai fechar as suas portas em 2015. Além da economia mundial que anda meio estagnada, um festival de erros de planejamento e execução do projeto acabou determinando o fracasso do projeto de “imigração” da Target.
Pensei em escrever um post comparando a história da Target com a história de imigrantes que erram o alvo da imigração, mas o Rogério do Montreal na Real escreveu um post certeiro sobre esse assunto, então o melhor a fazer é linkar o seu artigo, e fazer o meu resumo logo abaixo.
Montreal na Real:
FRACASSO E SUCESSO NO EXTERIOR. QUANDO BRASILEIROS ERRAM O ALVO DA IMIGRAÇÃO. ( OPINIÃO )
Lições aprendidas
Li alguns artigos analisado em sites especializados, como o The Economist, sobre os principais erros no projeto de implantação da Target do Canadá. Abaixo um resumo dos erros e as lições aprendidas:
Canadá não é Estados Unidos
A Target não compreendeu que a dinâmica econômica no Canadá é bem diferente dos Estados Unidos, os canadenses tem um padrão de compra diferente.
Quem sempre sonhou em morar nos EUA pense bem nisso antes de pensar na imigração para o Canadá como plano B. Não mude para outro país sem que isso seja o seu plano A.
Falta de conhecimento do mercado
Os executivos da Target acharam que os consumidores canadenses iram comprar pela marca; baseado no fato de que turistas canadenses frequentam as lojas da Target nos EUA, tiraram a conclusão de que as novas lojas da Target no Canadá seriam atacadas por consumidores como moscas. Mas, os preços e produtos não eram convidativos, e o canadense não comprar marca, compra baseado na relação qualidade/preço.
Quem quer imigrar para o Canadá, não seja relapso na fase de pesquisa, descubra tudo sobre a cultura, os defeitos do país para onde você vai imigrar, os problemas de adaptação você vai enfrentar e prepare-se até para lidar com uma possível rejeição. Tudo isso faz parte do processo de se implantar em um novo país.
Carro na frente dos bois
Um dos problemas mais graves nas recém inauguradas lojas da Target no Canadá foi o problema crônico de prateleiras vazias. A rede inaugurou uma centena de lojas no país mas não tinha uma rede de distribuição preparada para abastecê-las. Não há como obter lucro sem produtos para vender.
Não pule etapas na hora de planejar uma mudança para um outro país, não venha sem conhecimento da língua, do mercado, da cultura, não pule etapas ou aculume tarefas. Evite o pensamento do tipo: lá eu aprendo, lá eu descubro. A Target perdeu bilhões de dólares achando que poderia inaugurar lojas, montar uma rede distribuição e adaptar-se ao mercado local; tudo ao mesmo tempo.
Think big, act small
Alguns analistas apontaram que o erro da Target foi investir em lojas demais abrindo mais de 130 pontos de venda, sem nenhuma experiência no mercado local. Talvez uma estratégia de entrada com menos lojas com um plano de expansão a médio prazo teria dado certo.
Grandes mudanças devem ser feitas com cautela. Numa mudança para outra cidade, estado ou país, pode ser uma boa ideia fazer as coisas aos poucos, deixar portas abertas, fazer um passo de cada vez. Alguns imigrantes já chegam investindo todas as fichas, compram casa, carro e móveis sem nem mesmo saber em que região eles vão trabalhar ou estudar. Aceite um certo prejuízo no início, mas tente minimizá-lo.
Voltar é sempre uma opção
Foram menos de dois anos desde a implantação até a Target desistir do Canadá. O problema é que foram dois anos de prejuízos e os analistas estão prevendo prejuízo contínuo pelos próximo 6 anos. A decisão inevitável é mesmo fazer as malas e voltar a atenção para a rede nos EUA.
Se o imigrante percebe que a nova vida não está indo pra frente, que a perspectiva a médio e longo prazo também não é das melhores, não é vergonha nenhuma se mudar para outra região, outra província, outro país ou simplesmente voltar para o seu país de origem. É sempre uma opção válida e melhor do que ficar sofrendo e insistindo indefinidamente no que não está dando certo.
Olá Sandro, vou deixar aqui registrada a minha experiência de viver 1 ano em Quebéc e retornar ao Rio Grande do Sul.
É importante mencionar que fiz o inverso do que o pessoal imigrante costuma fazer, ou seja, primeiro fui para o QC, depois obtive CSQ, voltei ao Brasil, assisti a “palestra da imigração” e finalmente decidi por não continuar a imigração.
Retornei da Cidade do Québec em Março de 2009, após ter ficado 1 ano (março 2008 a março 2009, com visto de trabalho e bolsa de pós-doutorado em engenhaia química na ULaval), e em Fev/2010 venceu o CSQ que recebi em Montréal em Fev/2009. Deixei para solicitar a parte federal do processo de imigração após um período 6 meses após o retorno ao Brasil.
Assim sendo, decidi por não continuar com o plano de imigração, pois julguei não ser o mais adequado para minha família no momento, uma vez que consegui emprego 5 meses depois que retornei do Canadá em uma Universidade privada, com 24 horas de pesquisa e aula em pós-graduação e 16h de aula na graduação.
No futuro, não sei, pode ser que em 5 anos entremos novamente com o pedido do CSQ, mas de momento, a decisão de ficar por cá parece ser a mais acertada. Para quem não sabe, moro na capital do Rio Grande do Sul.
Caso alguém tenha conhecimento de história semelhante, favor postar aqui, uma vez que nem sempre esse tipo de situação é relatada. Eu mesmo conheci na Cidade do Québec imigrantes brasileiros que não se dispunham a frequentar fóruns e/ou criar blogs, simplesmente porque acreditam que cada um tem que se virar e pronto. Em contrapartida, sou do tipo de pessoa que faz questão de informar o que há de bom e de ruim nos lugares, sempre de acordo com o que foi vivenciado para que as demais pessoas possam ter uma referência, de certa forma confiável.
Eis algumas das razões que me fizeram optar por não ficar no QC:
Trabalho
Para minha esposa, não há restrição com relação à ordem regulamentadora, pois ela trabalha com informática. Em outubro de 2008, contactei a empresa Ubisoft numa feira de profissões na ULaval. Em dezembro de 2008, minha esposa foi contactada pela empresa via telefone e em janeiro 2009 ela fez uma entrevista no escritório da empresa na Cidade do Québec, pois ela havia viajado para me visitar nas férias. A entrevista foi em inglês; informaram a ela os objetivos e planos da empresa, e a questionaram sobre a sua adaptabilidade e possibilidade de trabalhar em um ambiente francófono.
A empresa estava interessada em contratá-la para um plano de expansão que incluía a produção de jogos digitais educacionais para crianças até 4 anos e jogos para pessoas mais velhas (acima dos 35 anos que é onde fica o maior filão desse mercado). Entretanto, devido à crise econômica na época (2008-2009), a empresa desistiu dos planos de expansão e concentrou-se no seu mercado tradicional.
Nesse meio-tempo, minha esposa ficou no Brasil seguindo com seu trabalho de doutorado que foi concluído e em seguida passou num concurso para professor/pesquisador em universidade pública onde atualmente trabalha no curso de Design.
No meu caso, cheguei na Cidade do Québec para trabalhar com pesquisa científica. Recebi uma bolsa de pós-doutorado do governo Canadense de 1 ano de duração, tendo recebido um Visto de Trabalho temporário. Seguem minhas sondagens para trabalho no Québec; ainda em abril/08 (segundo mês), na ULaval foi-me dito que não haveria pronta vaga para professor na minha área, pois embora eu tivesse condições técnicas para apresentar as disciplinas, o domínio do francês era uma deficiência minha.
Numa viagem que fiz em junho/08 à Ottawa, com passagem Montréal, aproveitei para verificar uma vaga para professor/pesquisador na minha área na Universidade Mc Gill.
Não havia me inscrito no concurso, nem agendado uma conversa com o professor responsável pela organização da seleção. Entretanto, resolvi me lançar à sorte e, casualmente, o professor me recebeu mesmo sem agendamento prévio. Conversamos em torno de 30 minutos, ele me explicou como funcionava a seleção, me informou que haviam 150 incritos até o momento e que já haviam pré-selecionado 8 candidatos e ele ainda chegou a me encorajar a me candidatar à vaga; o que não fiz tendo ciência do meu histórico naquele momento.
Haviam ainda algumas outras vagas que vi no mural da ULaval; professor de CEGEP em plásticos na localidade de Thethford Mines, professor/pesquisador em Kitchner Waterloo.
Assim, acabei focando minha atenção no objetivo para o qual eu realmente estava ali, ou seja, realizar pesquisa e produzir artigos científicos.
Depois de mostrar serviço com o professor onde estive trabalhando, tanto por sugestão de um colega de trabalho como do nosso colega Carlos_Santos, busquei contactar a empresa Vaperma, que trabalha com uma tecnologia para purificação de etanol. Havia uma vaga para um profissional com experiência em desenvolvimento de tecnologia na minha área, que soubesse inglês/francês e com o diferencial de saber português (a empresa tinha contato com a Dendini no Brasil). Isso foi em novembro/08; contactei via telefone, tendo sido me solicitado o envio de C.V. Após enviar o currículo, entrei em contato novamente, o pessoal recebeu meu curículo e em duas semanas foi me informado que as novas contratações estavam suspensas. A empresa tinha 75 funcionários até o Natal/08; em janeiro/09 voltaram apenas 19 para o trabalho.
Depois disso, ainda tentei obter uma bolsa de pós-doutorado com meu professor na ULaval, mas ele não havia aprovado projeto na minha área, não havendo bolsas disponíveis naquele momento. Assim, contactei meu ex-co-orientador de doutorado na UFRJ e obtive resposta positiva de uma bolsa de 1 ano, prorrogável por mais 1 ano, trabalhando no RS e no RJ, continuando a desenvolver a nossa pesquisa.
Depois do retorno ao Brasil, fiquei 2 meses de « férias », aproveitando o sol e o calor de março e abril de 2009 (houve uma forte estiagem no RS), tendo iniciado a bolsa de pós-doutorado em maio/09. No final de julho/09 houve um concurso numa universidade particular do Vale dos Sinos (RS); local onde comecei a trabalhar em agosto/09 e estou atualmente desenvolvendo pesquisas aplicadas e ministrando disciplinas na minha área. Creio que o tempo que passei em Québec, aliado aos trabalhos publicados desse período, foram o diferencial para meu sucesso na seleção da universidade.
Alguns pontos negativos do QC:
Perspectivas reais de avanço e inovação da carreira muito esparsas no Quebec. Não existe inovação tecnológica e o ambiente de trabalho não é dos mais estimulantes. Trabalho na minha área é possível somente na universidade, com pouca interação com empresas. E o salário líquido nessa posição é proporcional ao que se consegue no Brasil. No resto do Canada, a situação é um pouco melhor (tenho colegas e amigos que trabalham em Waterloo como referência);
Serviços públicos mal organizados e de qualidade muito duvidosa e questionável. No Brasil, não é bom (como nós bem sabemos), mas a carga tributária no QC é absurdamente alta e não justifica a deficiência dos serviços;
De modo geral, as pessoas não tem educação e muito menos, sofisticação. São camponeses com um cartão de crédito no bolso e se acham a última coca-cola do deserto por conta disso. Quanto mais para o interior, pior é a civilidade. Compreender o idioma então, é brabo.
Mal estar crescente em relação aos estrangeiros, bastante preconceito, o medo dos nativos em perderem o emprego para os estrangeiros;
Ilusão de bem-estar social. Os altos índices de suicídio e consumo de drogas contradizem o ideal de que no Québéc « on fait du bon vivre » ou que « on est bien au quebec »;
Serviços privados sem nenhum respeito pelo consumidor. O código de defesa do consumidor é bastante rudimentar;
Serviços de saúde pública sobrecarregados, sem possibilidade de aquisição de planos privados. Segundo o senhor onde morei por 1 ano, a tendência é que em 10 anos haja necessidade de criação de planos de saúde privados.
Clima, não apenas a intensidade do frio, mas a quantidade de tempo que o clima é desagradável para praticar esportes em ambiente aberto. Como praticante de corrida, senti muita falta de poder correr ao ar livre com conforto, sem falar em ter que colocar a armadura de astronauta para ir comprar cerveja na esquina e ficar praticamente 6 meses em ambientes fechados, seja em casa, no trabalho, para fazer compras, diversão, etc.
Alimentação muito cara. No Brasil se come muito melhor (pratos saudáveis inclusive, não porcarias) a preços muito mais baixos. Restaurantes muito mais caros que no Brasil, mesmo se comparado a cidades turísticas como o Rio de Janeiro. A carne de gado comprada no açougue aqui no RS, mesmo com o aumento, continua muito mais em conta do que fazer um churrasco no QC, sem falar no preço da cerveja para acompanhar.
Pontos positivos:
Segurança inquestionável de ir e vir pra onde se quiser; o único detalhe é que na Cidade do Québec, não há muitos lugares para se ir…
Sistema de educação superior muito bom (em alguma universidades, não todas) com facilidade de acesso (pago, mas custo mais baixo que nas privadas no Brasil).
Sistema de transporte público extremamente eficaz (em Montréal, porque na Cidade do Québec se espera até 30 minutos pelo busum a -20oC ou menos no inverno);
Acesso a bons vinhos a preço bastante acessível (o que em contrapartida, incentiva o alcoolismo);
Acesso facil a América do Norte e Europa (fácil pela distância);
Acesso mais rápido as novidades tecnológicas e de consumo (para quem dá importância para esse item e não usa importação via Ebay, etc).
Sobre as “Palestras de Imigração” apenas faço a ressalva para serem críticos, pois o modo como é apresentado o QC, é pintado um quadro de mil maravilhas que podem não acontecer…
Fabrício,
Você acaba de ganhar a medalha de maior comentário do blog, record mundial. 🙂
Falando sério, obrigado por compartilhar a sua experiência, espero que sirva para outras pessoas também colocarem os pés no chão.
Abraço