Esse post apresenta mais dicas sobre o aprendizado de uma nova língua, algo essencial para quem quer imigrar ou fazer intercâmbio. Como essa é a segunda parte, recomendo muito começar pelo começo, clicando aqui para ler as dicas 1 e 2.
A dica 2, no link acima, fala da importância de se ouvir muito a língua antes te falar e conhecer a pronúncia das palavras antes de aprender a ler e escrever em outro idioma. As dicas seguintes são um complemento da dica 2. Como fazer uma imersão virtual na língua, como construir um vocabulário para aprender a pensar no novo idioma e como evitar traduzir mentalmente as suas ideias.
3. Use as ferramentas a sua disposição
A pouco tempo atrás era muito difícil conseguir cursos de línguas que focados na expressão e compreensão oral. A maior parte dos cursos vinham com um extenso material impresso e demandavam muitos exercício de escrita. Aprendi inglês dessa forma, lendo muito, escrevendo um pouco, ouvindo menos e falando nada. E isso me prejudicou na adaptação quando cheguei a Montreal.
Já no francês, que só comecei em 2007, as técnicas já eram mais modernas e a imersão oral foi maior, por isso foi possível alcançar um nível intermediário de francês em bem menos tempo. O que mudou? Se no século passado era difícil conseguir material em áudio – lembram da revista speak up que vinha com uma fitinha? – hoje temos computadores, celulares, mp3 players e TV a cabo. E acima de tudo a Internet.
Uma pequena lista de ferramentas para ouvir o máximo possível da nova língua:
- Softwares que focam na compreensão oral, (e.g. RosettaStone).
- Sites que ensinam línguas e permitem a troca de arquivos de áudio com nativos na outra língua (e.g. LiveMocha)
- Sites que lêem um texto em uma língua estrangeira (e.g. oddcast, google translate)
- Podcasts e vídeos no Youtube direcionados para aprendizes, onde o vocabulário é básico e a língua pronunciada mais lentamente (e.g. ESLPod)
- Para quem está num nível mais avançado: TV e rádio ao vivo na internet. Vários canais do Canadá veiculam sua programação gratuitamente na web.
Um menção especial ao site ESLPod que é gerenciado por dois doutores em ensino de inglês como língua estrangeira que defendem a ideia de treinar uma nova língua com áudios que os aprendizes podem entender 100%. Por isso eles usam linguagem do dia a dia e falam em uma velocidade menor, para total compreensão da correta pronúncia de cada palavra e expressão. Infelizmente eu não conheço um site similar para o francês.
EDIT: eu econtrei um site que tem podcasts em francês falado lentamente, mas é com o sotaque francês e não do Quebec. O site é: http://www.francaisauthentique.com/
Além dessas ferramentas para compreenção oral, você pode aumentar o seu vocabulário mudando a linguagem do seu celular, email, Facebook, etc. Mas não esqueça de aprender a pronúncia correta de cada palavra nos menus dos eletrônicos.
4. Aprenda expressões, não apenas palavras
Um erro que muitos cursos de língua repetem é a memorização de vocabulário palavra por palavra. Construir um vocabulário palavra por palavra cria a tendência de traduzir os seus pensamentos da sua língua nativa para a estrangeira – o que é uma péssima ideia. Em segundo lugar você não aprende a aplicar as palavras certas na hora certa exigindo um esforço enorme para construir as frases uma palavra de cada vez. Tome como exemplo o quadro abaixo:
Português | Inglês | Francês |
Casa | House | Maison |
A memorização da tabela acima, se mostra inútil ao tentar usar a palavra numa expressão, isso porque a palavra casa pode ser traduzida também como home em inglês e como foyer ou habitation em francês dependendo do contexto. Melhor seria memorizar expressões, como na tabela abaixo:
Português | Inglês | Francês |
Comprar uma casa | To buy a house | Acheter une maison |
Ir para casa | To go home | Rentrer chez soi |
Na expressão “comprar uma casa”, a tradução literal vai bem mas, na expressão “ir para casa”, a palavra casa é melhor traduzida por home em inglês. Por fim a expressão em francês é completamente diferente, o verbo usado é diferente e a expressão chez moi/toi/soi – que é particular do francês – substitui a palavra casa.
Mas eu seria compreendido se disser “I’m going to my house / Je vais à ma maison“? Sim, mas vai causa estranheza no ouvido do seu interlocutor. E se alguém tiver de pensar e refrasear as coisas que eu digo, ele vai se cansar logo de conversar comigo e pode ser que ele não vai pensar duas vezes antes de se tornar meu amigo ou de me contratar.
É importante falar as expressões da forma que as pessoas esperam para que a conversação flua e é isso que define você como fluente ou não. Incomoda muito para um nativo ter que pensar para entender o que você diz, repare que num diálogo, as pessoas sacam de uma caixa invisível de vocabulário, expressões e frases prontas que são adaptadas à situação, assim a conversa se torna leve e agradável.
Minha sugestão é que você crie uma lista de expressões que você costuma usar, relacionada aos seus interesses ou a sua profissão, para criar um pequeno dicionário de expressões que seja particular para você. Alguns dicionários e tradutores online fornecem tradução para expressões.
Continua! Na parte 3 vou comentar sobre sotaque e comparar as formas de estudo de línguas estrangeiras.