Qual é a imagem que o Brasil está passando ao sediar a Copa do Mundo da FIFA? A imprensa internacional tem publicado diversos artigos expondo a situação atual do país, para o bem e para o mal. Mas de que maneira a copa tem influenciado as pessoas sobre o Brasil? Morando no Canadá, eu me encontro numa posição privilegiada para perceber esse impacto e já comecei notar algumas diferenças na imagem do país tropical.
Quem dá bola pra copa do mundo?
Eu pensava que o canadense não dava a mínima para a copa do mundo de futebol. O tempo mostrou que esse estereótipo estava errado, ao menos em Montreal.
Na copa de 2010 nós já vimos a invasão das bandeiras, nesse ano encontramos o álbum de figurinhas no Dollarama, mas as figurinhas rapidamente se esgotaram devido à alta procura. E novamente os jogos da copa serão todos transmitidos na TV em rede aberta.
As pessoas no meu trabalho também perguntam sobre como eu acho que será Copa, sobre o atraso nos preparativos e principalmente sobre a questão das manifestações públicas.
Mudança de paradigma
O que tem sido publicado na imprensa daqui (ver links abaixo) e principalmente a repercussão das manifestações ocorridas durante a Copa das Confederações mudaram o mindset em relação ao Brasil e o brasileiro. A imagem do país do futebol e do samba logo contrastou com manifestações de um povo descontente com a falta de investimento em infraestrutura, afinal o futebol não era tão importante assim ou a coisa está muito feia mesmo.
O cenário é o mesmo de sempre, o que mudou na verdade foi a iluminação. Os holofotes estão acesos e apontados para a sociedade brasileira, principalmente para questões de segurança, justiça social e capacidade de execução. Esse último pode prejudicar a economia brasileira, afetando o humor de governos e empresas no exterior na hora de fazer negócios com o Brasil.
A máscara carnavalesca do povo sempre alegre e sorridente caiu, mostrando um povo sofrido, vitima de décadas de corrupção e desmandos. Mas ainda pior, a imagem do país do futuro, candidato a ser uma nova potência mundial, mudou para um país que tem sérios problemas estruturais, cujo governo é despreparado, o planejamento é amador e a sociedade violenta.
Impactos nos brasileiros que moram no exterior
Não acho que essa mudança de paradigma trouxe algum impacto sobre a minha imagem como profissional aqui no Quebec, se existe diferença é muito sutil e pode até ser benéfica. Se por um lado a imagem de um Brasil cheio de problemas assusta, por outro lado é bom que desapareça a imagem do brasileiro bobo e festeiro, que está sempre a sambar mesmo que o mundo esteja acabando.
Mas tem uma mudança que eu senti na pele. Não sei se é coincidência mas, quando chegamos em 2009, sempre que conhecia alguém daqui vinha a pergunta: “Por que vocês deixaram aquele país maravilhoso para morar aqui nesse lugar gelado?” ou simplesmente “O que vocês vieram fazer aqui?”.
Então… não perguntam mais! Por que será?
Pesquisei sobre Brésil no LaPresse e as últimas notícias são:
Cafouillage en vue au Brésil pendant le Mondial
(Bagunça à vista no Brasil durante o mundial)
Les aéroports seront inadéquats lors de la Coupe du monde
(Os aeroportos estarão inadequados durante a da Copa do mundo)
Mondial-2014: un rapport secret du gouvernement liste les risques
(Mundial-2014: um relatório secreto do governo lista os riscos)
Brésil: 39 morts durant une grève policière
(Brasil: 39 mortos durante uma greve policial)
Brésil: la police appelle à la grève avant le Mondial
(Brasil: polícia entre em greve antes do Mundial)
La grève des bus à Sao Paulo crée le chaos
(Greve de ônibus em São Paulo cria o caos)
Muito bom o post!
Excelente post. Tenho observado a mesma atitude por aqui, em Ottawa. Entre os brazucas ainda existe uma pequena animação, principalmente os que estão a muito tempo aqui. Abçsss..
Show!
Post perfeito! É bem isso que estamos vivendo por aqui. Infelizmente.
Trabalhando no Governo Federal a gente acaba sabendo de muito mais coisas que o que é divulgado pela mídia, ou percebido pela população em geral. Até mais do que gostaríamos… Daria para escrever um livro. Mas, sintetizando a história, o que acontece é que o governo camufla a situação. O predecessor da atual presidente era um ótimo marqueteiro, que vendeu a imagem de uma “Brasil maravilha” que nunca existiu de fato. Quando experimentamos algum crescimento significativo do PIB, foi basicamente o resultado da grande oferta de crédito, de programas assistenciais de repasse de recursos e da alta demanda chinesa por produtos primários. Ou seja, fundamentos bastante questionáveis. Hoje o quadro econômico nacional e mundial é outro, colocando em xeque a “fórmula de sucesso” adotada pelo País até aqui. Se a situação hoje se mostra explosiva, é porque a população começa a perceber o engodo em que foi envolvida. Percebe que o Brasil não mudou de fato; ao contrário, se mantiveram vários vícios e deficiências, quando não ocorreu a piora de certas questões (corrupção, por exemplo). O mais preocupante, contudo, é saber que há muita “sujeira debaixo do tapete”; que Administração Pública está sucateada, que o governo já está “enrolando” para pagar vários dos seus compromissos, que a inflação está em aceleração (vale a pena observar que ela é bem maior que os “índices oficiais”), que a economia está estagnando, que a indústria está em franca crise, que o déficit nas transações correntes tem se mostrado persistente e crescente (sendo o do último mês de abril o maior desde 1947), etc. Ou seja, a maior parte das pessoas ainda não está em desespero por causa dos reflexos da crise nas suas situações financeiras particulares. Não dá para saber onde é o fundo do poço mas, infelizmente, nós ainda não o atingimos. Muita coisa ainda deve vir à tona.