Nesse verão nós passamos algumas semanas na pátria amanda Brasil, foi nossa segunda ida ao país nestes 4+ anos que estamos aqui. Essas férias tiveram um efeito colateral no blog, simplesmente travou, não o sistema, mas o os donos do blog! Foram apenas dois posts nos últimos meses. Acontece que eu tinha escrito um longo rascunho sobre as impressões após nossas férias no Brasil. Li, reli e apaguei tudo.
Uma das principais funções desse blog é compartilhar nossas aventuras e desventuras, mas não é um diário. Percebi que nossas impressões são muito particulares, tem a ver com quem nós somos e dificilmente vai ter algum proveito para outra pessoas.
Acho bem difícil de definir essa linha tênue entre: se abrir publicamente na internet, fazer um diário online, ou criar um site para ajudar os outros que passam pela menas situações, por isso estamos sempre nos questionando do porque continuar blogando. Muitos colegas blogaram o processo de imigração, mas acabaram fechando o blog após mudar de país. Esse blog nunca foi sobre o processo de imigração, mas sobre a adaptação à uma nova vida, então as motivações são diferentes. Portanto já que você está lendo esse post, sinta-se convidado a participar da enquete ao lado, ou fazer um comentário, dizendo o que você faz aqui e porque está lendo esse blog…
Reflexão feita, voltemos ao assunto. Como expliquei acima pretendo divagar mais sobre as impressões sobre nós mesmos – em aspectos comuns a emigrante e expatriados – do que nossas opiniões sobre o Brasil, o Canadá ou o mundo, mesmo porque elas não mudaram muito desde a primeira visita. Lá vai:
Quem sou eu?
A pedra que mais incomoda no nosso sapato, em relação a nossa integração no Quebec, é que nós ainda não nos sentimos integrados. Parece que por mais esforço que nós fazemos, nós ainda parecemos imigrantes de algum país exótico do sul. O que é, na verdade, o que nós somos. Nosso círculo de amizade é coalhado de brasileiros, nosso francês vai bem obrigado, mas sentimos que ainda é limitado. O Quebec assume em suas estatísticas que o imigrante é “muito recém chegado” até que complete 5 anos, depois ele é em “recém chegado” até completar 10 anos. Estamos provavelmente saindo de um estágio e entrando em outro.
O problema ao visitar o Brasil, é que nós percebemos que nós mudamos e, em alguns aspectos, estamos menos integrados na cultura tupiniquim. Detalhes bobos nos surpreenderam, nada a ver com as tão faladas diferenças culturais, mas pequenos detalhes, coisas particulares. O resumo é: nos sentimos estrangeiros, lá e aqui. E o pior, me avisaram que isso iria acontecer.
A vida continua
No fim das contas, a viagem serviu não apenas para visitar nossos amados parentes e amigos, mas também para refletir sobre a nossa posição em todo esse processo. Eu sempre digo que invejo aqueles que emigram dizendo “no Brasil só volto para tirar férias, e olhe lá”. Nunca dissemos isso, o que nos gera o estresse de estarmos constantemente nos perguntando “está valendo a pena? Seria melhor ter ficado? Voltar é uma opção?”. A questão é que sempre vale a pena, você sempre aprende com a experiências, lá ou aqui. Então acho que chegou a hora de parar de perguntar.
Hoje estamos na espera do nosso processo de cidadania, mas até isso perdeu um pouco a urgência. É hora de dar mais ênfase nos desafios do dia a dia, na carreira e nos estudos, no desenvolvimento dos nossos filhos, numa melhor integração. Vamos planejar mais a médio prazo do que a curto prazo. E nos preparar para finalmente mudarmos de imigrantes “muito recém chegados” para “recém chegados”. Pensava que isso ia ser mais rápido…
Oi Sandro, fazia mesmo muito tempo que eu vinha aqui e nao via nada de novo. Sempre gosto de vir aqui, pq muitas vezes me vejo exatamente no seu lugar, mesmos questionamentos, mesmos anseios e etc. Esse post mesmo, tenho todos esses questionamentos, afinal, no primeiro momento pensava em vir e voltar em alguns anos…. mas agora, ja nao.
Penso que assumir uma postura mais de longo prazo, como por exemplo dizer, nao vou voltar (ou pelo menos nao pensar em voltar) deixa as coisas mais faceis e as duvidas (volto? nao volto? como estaria la? valeu a pena?) comecam a desaparecer (um pouco).
Olá Sandro!
Na humilde opinião de alguém que ainda pretende imigrar, que ainda não morou no exterior mas que já fez algumas grandes mudanças dentro do Brasil, creio a atitude de “queimar os navios” seja importante para qualquer um que pretenda morar em outro país, cidade, bairro, etc. Isso não significa fazer um “juramento” de nunca mais voltar a viver em determinado lugar, mas um “desapego” quase que total da vida que se está deixando para trás (cultura, convívio social, gastronomia, lazer, etc). Também não significa esquecer o passado, abandona-lo ou despreza-lo, mas de se ter a consciência de que a vida vai ser outra, de que estaremos distantes de pessoas queridas, de que provavelmente não mais estarão facilmente disponíveis as coisas que gostamos de comer, que o clima vai ser outro, etc. É colocar na balança os prós e os contras da mudança, ou de continuar como está, decidir-se e tocar a vida em frente, sem ficar em dúvida se a opção foi acertada ou não. Na dúvida, penso eu, em se tratando de imigração, é melhor não ir.
Conheço um casal que uma teve uma migração “frustrada” para Curitiba. O rapaz conseguiu um emprego numa grande empresa daqui. Deixaram um apartamento mobiliado na cidade de origem e alugaram uma quitinete barata, adiando a mudança definitiva até que estivesse “tudo certo”. Os dois eram muito apegados às suas famílias, portanto o desconforto da distância esteve sempre presente. Aconteceu o inevitável: as coisas nunca se acertavam, tudo dava errado, a integração com os daqui era difícil, o trabalho não era tão bom quanto outros anteriores, etc. Até que se tornou irresistível a volta à sua cidade natal, ao seu antigo convívio e ao “seu” apartamento. Mesmo que na condição de desempregados e sem perspectivas de trabalho lá.
O fato é que qualquer mudança tem aspectos positivos e negativos; ganha-se de um lado, mas perde-se de outro. Porém, como as pessoas diferem entre si, como os objetivos de vida são diversos, países e/ou cidades tornam-se mais ou menos interessantes conforme as particularidades de cada um. Daí, a importância de cada qual ter bem claros os seus objetivos e, propondo-se a alcança-los, ter consciência de que haverá um “preço” a pagar. Como o Valter disse, ter planos para médio e longo prazos ajuda, pois olhando à frente a gente tende a questionar menos a situação presente, se “valeu ou não a pena”, uma vez que nos sentimos num processo para conquistar algo que ainda virá. Passamos a ver como “necessária” a nossa condição atual. Mesmo assim, em algum momento de dificuldade, é provável que a dúvida “será?” surja na mente; mas, deverá ser algo passageiro.
Olá Sandro, eu de novo…
Achei oportuno esclarecer que o meu último post não foi uma “resposta” ao que você escreveu, mas a exposição do meu pensamento em contribuição ao debate deste tema. O que eu escrevi foi baseado na minha experiência e na de pessoas próximas a mim. Não conheço a sua experiência em detalhes, portanto eu não posso tentar interpretar os seus sentimentos em relação à questão.
Oi, Sandro!
Eu li o seu post quando você escreveu e pensei que não teria muito a ver eu comentar primeiro porque eu não sou recém-chegada, eu sou recém-nascida no Québec com os meus quatro meses e meio… E segundo porque eu sou uma dessas pessoas que imigraram falando exatamente o que você citou: no Brasil eu só volto de férias e olhe lá!
Mas bem, depois eu percebi que você tocou em dois pontos que me interessam muito. O da exposição na Internet é um deles. Não só pela exposição em si, no meu caso eu me pergunto diariamente porque e para que meu blog existe. “Ajudar” ou “informar” pura e simplesmente sobre o processo de imigração nunca foi uma das minhas intenções. Contar curiosidades sobre o Québec/Canadá também não, isso é no máximo um “atout”, uma consequência… Acho que no fundo o que eu quero é usar o blog para contar a vida, para contar histórias e para falar dos meus sentimentos. A questão é: eu quero mesmo abrir meus sentimentos na Internet para quem quiser ler? Se sim, quais sentimentos eu quero expor e quais eu quero guardar? Dureza!
O outro ponto é esse da integração que martela na minha cabeça todos os dias: o que é a integração? A gente fala, fala, fala sobre isso, mas na prática, o que significa estar integrado?
Se olharmos do ponto de vista econômico, falar francês avançado (não precisa ser fluente), ter um emprego, pensar em comprar uma casa, um carro, mandar seus filhos para as escolas públicas, pagar impostos, enfim, é estar integrado. Nesse caso, depois de 4 anos aqui com certeza estarei integrada… Mas a gente sabe que não é só isso, né? Então é o que? É entender todos os sotaques do Québec desde o Lac-Saint-Jean até Abitibi? É só ter amigos québécois? (Acho que nem os québécois “pure-laine” têm apenas amigos québécois… Rsrsrs) É não ter amigos brasileiros? Eu queria muito encontrar essa resposta, mas eu acho que ela não é única, acho que pode variar de pessoa para pessoa…
Aliás, acho que eu deveria escrever um post em vez de escrever um comentário-bíblia no post alheio! 😉
Beijos,
Lidia.
Valer, Fabio e Lídia,
Valeu pelos comentários. Coincidentemente um comentário de quem mora no Canadá a algum tempo, outro de quem mora há pouquíssimo tempo, e outro de quem está no processo. Mas todos meio que concordando.
Bom dia Sandro e Adriana,
Como estao? Continuo a segui-los mesmo depois de termos migrado.
Ja faz 2 anos mas aqui encontramos informacoes sempre pertinentes mesmo sem nunca termos trocado palavras ou mesmo nos conhecermos.
Gostaria da ajuda da Adriana, se for possivel me responder, eu sou formada em Secretariado mas estou para receber a minha equivalencia de diploma no mes de novembro, porém estou precisando saber qual eh o titulo q recebemos aqui, no Québec. Se ela puder me ajudar, ficarei grata.
Como sempre agradeco pq uma experiencia vivida e compartilhada, eh sempre positiva para quem ler e os acompanha.
Felicidades, Luciana Rivas Couto e familia.