A versão em francês da wikipedia define assim o famoso “jeitinho brasileiro”:
Le jeitinho est un mécanisme social typiquement brésilien. C’est une manière pour une personne d’atteindre un objectif en contrevenant à une règle établie et faisant appel à des arguments émotionnels afin d’obtenir une faveur, une passe-droit. On ne doit pas confondre le jeitinho avec d’autres types de pratiques, telles le clientélisme ou la corruption.
Au niveau des représentations symboliques, les Brésiliens peuvent percevoir le jeitinho soit positivement, comme étant une façon d’humaniser les règles, soit négativement, comme étant la conséquence d’une structure sociale pervertie, ces deux perceptions n’étant d’ailleurs pas exclusives l’une de l’autre.
Em bom português: o jeitinho, é um forma de conseguir o que se quer burlando as regras ou usando artifícios como o apelo emocional. Pode ser visto de maneira positiva, por ser uma forma de humanizar as regras ou negativa, consequência de um estrutura social pervertida.
A maior parte dos brasileiros condena o uso generalizado do jeitinho, mas ao mesmo tempo tem um certo orgulho, como de um filho torto que se deu bem na vida. Em todo o caso o brasileiro tem certeza de que o jeitinho é propriedade exclusiva dos brasileiros, algo não encontrado em outros países. Balela! Em maior ou menor grau, o jeitinho está presente em todas as sociedades. Vou relatar dois casos de jeitinho quebequense que aconteceram comigo:
Caso 1 – financiamento de automóvel
Há cerca de dois ano, compramos um carro usado numa concessionária, financiamos o carro junto ao banco, e o agente que deu entrada no pedido de financiamento era funcionário da loja. O interesse dele era concretizar a venda, então ele me fazia perguntas e digitava no sistema do banco:
– A quanto tempo você mora nesse endereço? – perguntou ele.
– Um ano – respondi eu. “Dois anos” digitou ele no sistema.
– A quanto tempo você trabalha no atual emprego?
– Seis meses – respondi. “Um ano e seis meses” ele digitou no sistema, enquanto eu fazia uma cara de “será que ele não me entendeu?”.
– É que o sistema não gosta de zeros, é bom nunca preencher os campos com zero. – explicou ele.
Ah bom! Sim o financiamento foi aprovado.
Caso 2 – o cartão de crédito
Fomos conversar com o gerente do banco, que não vou dizer qual, pois queríamos um cartão de crédito “super-legal” que dá milhas, e queríamos abrir no nome da Adriana para contar no seu histórico de crédito. Ele colocou os dados todos corretamente no sistema, e o sistema recusou. Se fosse feito no meu nome o sistema aprovaria pela minha renda mas no nome da Adriana não dava.
Então ele saiu com o jeitinho quebequense: Vamos fazer o seguinte, eu vou solicitar o cartão “quase-legal” que não dá milhas, pois esse é aprovado pela renda conjunta. Quando chegar na casa de vocês, nem desbloqueiem, liguem para mim. Então eu abro um pedido de upgrade no cartão para o “super-legal” que dá milhas.
Dito e feito, graças ao jeitinho do gerente, hoje temos o cartão “super-legal” que dá milhas.
Conclusão
O jeitinho existe por aqui também. De forma menos descarada do que no Brasil, geralmente é aplicado num intuito de ajudar ambas as partes e com muito receio de passar para o lado da ilegalidade. Mas as regras são burladas da mesma forma.
Quer seja com proprietários pedindo aluguéis adiantados como depósito – coisa proibida na legislação – ou garderies ignorando a lista de espera para dar prioridade para uma indicação; o jeitinho quebequense está por toda a parte. Mas atenção! Aqui é feito de uma forma diferente do que se faz no Brasil, então leia a bula antes de usar.
Uau! Tou passada! Esses são sim exemplos de jeitinho…
Mas falar que só existe “jeitinho” no Brasil é bobeira: onde existem seres humanos estabelecendo regras vão existir pessoas querendo burlá-las. Às vezes como forma de se livrar de burocracias inúteis e exageradas, às vezes como – no caso do famoso jeitinho brasileiro – formas de corrupção pontuais. E o liminite entre essas duas linhas é extremamente tênue…
Beijos,
Lidia.
E so nos resta esperar que o jeitinho quebequense continue sendo uma exceçao, e nao a regra como no Brasil…
Sandro,
Realmente isso existe sim e não somente em Quebec…o que diferencia é a questão da vigilância dos órgãos públicos e as punições previstas…
Se for fácil burlar, o cidadão comum vai faze-lo, seja ele brasileiro, americano, canadense e por aí vai.
abs e bem interessante suas experiencias
Alugamos um studio em Montreal. Perguntamos: Se sairmos antes recebemos parte do dinheiro de volta? Resposta: Não! Seu contrato foi pra um mês. Uma semana depois me liga a empresa querendo nos convencer a sair antes dizendo que nosso preço foi promocional e etc (mentira, pagamos o preço normal que continuava no site inclusive). Não sabiam eles que já íamos mesmo sair. Falei: Saio antes se me devolverem um terço do aluguel. Pronto! 1×0 jeitinho brasileiro x quebequense. O ser humano quer tirar vantagem. A diferença é se a sociedade é vigiada de forma eficiente. Só isso. E eles são melhor vigiados. Por isso cumprem mais a lei. Só por isso.
Amana,
Concordo com você. Acho que você já entendeu bem como o que é igual e o que é diferente por aqui.