“Eu estou torcendo para o Brasil e para o Canadá, se eles estiverem disputando junto aí eu torço para o Brasil”. Foram essas as palavras da minha filha, mas se não tem brasileiro ou canadense na disputa vale torcer pelo país do colega da escola, pela França – porque falam francês – e por Portugal – por razão semelhante. É uma visão olímpica diferente da que é transmitida através da Rede Globo Record e de toda a mídia brasileira: vencer, vencer, vencer. Comecei a ver nos meus filhos uma maneira de ver as olimpíadas diferente da que eu aprendi quando criança.
É do Barão de Coubertin, considerado o pai dos jogos olímpicos modernos, a frase: “o importante não é vencer, mas competir”. Em dias de contratos milionários com patrocinadores, governantes usando o esporte como campanha política e todo mundo lutando por uma fatia do ibope, essa frase parece estorinha para crianças… mas aí que vem a pergunta: o que estamos ensinando às nossas crianças?
Igual mas diferente
Nos sites de notícia do Canadá e do Brasil o mesmo design: no quadro de medalhas o país local aparece em destaque, mesmo estando em 15º lugar. Da mesma forma cada medalhista tem direito a uma eternidade de tempo na mídia incluindo entrevista com o treinador, com a família, fotos de criança e etc. Aqui é igual lá.
Mas e quando o atleta perde? E quando as coisas não vão bem? Aí as coisas são diferentes, me impressiono cada vez que um atleta canadense é entrevistado após uma derrota. As explicações e desculpas de sempre são dadas com um sorriso no rosto que só tem quem sabe que fez o seu melhor. Essa serenidade se contrasta com o choro incontrolável de outros perdedores – claro que não só dos brasileiros. De onde vem essa serenidade dos atletas canadenses? De onde vem o espírito olímpico descrito por Pierre de Coubertin?
Mentalidade
Na última olimpíada de inverno eu já havia me espantado com a atleta quebequense Joannie Rochette que ganhou uma medalhe de bronze na mesma semana da súbita morte de sua mãe. Nada de desespero, nada de amarelar, competiu e ficou em terceiro. Por outro lado leio notícias de atletas de outros países completamente desestabilizados por erros da arbitragem, por maus resultados dos colegas de equipe, por problemas de equipamento ou simplesmente pela extrema pressão colocada sobre si mesmo.
Atletas que infelizmente são forçado a acreditar que estão lutando por seus países, pela honra da família, pelos conterrâneos aflitos e por uma superação nacional. Esportistas que já deixam o seu país com a obrigação de vencer e trazer alegria ao povo sofrido. Mas isso estria de acordo com espírito olímpico? Não é isso que eu quero ensinar aos meus filhos quando o assunto é esporte.
Para evitar fazer comparações diretas, vou colocar quatro vídeos abaixo e pedir que os leitores comentem as diferenças de mentalidade expressadas nas vinhetas dos canais de televisão. Os vídeos da RDS não podem ser inseridos no blog, então ao clicar na imagem o vídeo abrirá no Youtube. Acho que a conclusão de vocês será a mesma que a minha, o espaço de comentário é de vocês.
Realmente a postura é bem diferente entre os vídeos.
Aconteceu hoje lá no trabalho algo que acho que é semelhante ao que vcs relataram aqui: uma colega falou que tem acompanhado bastante as olimpíadas e perguntou se eu tinha visto o brasileiro X, Y, Z… que sempre que via um brasileiro ganhando lembrava de nós e ficava torcendo tb…
Abraços
Erika
Em geral a qualidade da Record é sofrível… Estou acompanhando pelo Sport TV e a transmissão é muito melhor, acho que nem tem como comparar, é outro padrão (similar ao internacional). A mensagem que se passa através dessas mensagens selecionadas é muito diferente (embora a segunda Canadense não se possa abrir do Brasil), ao que parece no Canadá há mais espírito de colaboração enquanto por aqui se o atleta vai bem “todo mundo” apoia, mas se perde é um Deus nos acuda… No Facebook teve muita gente sentando o sarrafo nos atletas que não obtiveram medalhas, sem se dar conta que aqui no Brasil é pífio o investimento real em esportes.