Esse assunto me saltou ao olhos após assistir uma palestra do chef Jamie Olivier no TED. Nesse link: http://www.ted.com/talks/jamie_oliver.html você pode assistir a palestra , com legendas em inglês, português ou francês. O foco dessa palestra, e do trabalho de Jamie, é a qualidade da comida consumida nos Estados Unidos e os problemas de saúde decorrentes desses hábitos alimentares. Recentemente ele apareceu na mídia por ter “descoberto” um sistema de recuperação de carne de má qualidade para rechear os hambúrgueres do McDonald’s nos EUA.
Dois dos pilares da alimentação saudável estão na casa e na escola, incrivelmente ele descobriu que mães estão dando junk food aos seus filhos porque não sabem cozinhar! As cantinas escolares tem servido bata-frita como legume e leite adoçado porque os diretores das cantinas não entendem nada de comida, então dão o que parece mais apetitoso.
Jamie faz algumas palestras nas escolas primárias onde as crianças pequenas não sabem diferenciar uma batata de um tomate – no vídeo acima por volta de 11 mins. Esse desconhecimento alimentar leva à má nutrição, obesidade infantil e problemas de saúde. E no Quebec as coisas seria diferentes? E no Brasil qual é a tendência?
A merenda
A primeira preocupação seria com meus filhos. O mais novo, ainda na garderie, come o que preparado lá, já a mais velha, na escola primária come apenas o que leva de casa, inclusive o almoço que vai na marmita. Mas resolvi dar uma olhada melhor no que é servido na escola primária para aqueles que contratam o serviço de tratoria.
Vou pegar como exemplo a semana 4 do menu:
19-Dec |
20-Dec |
21-Dec |
22-Dec |
23-Dec |
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Opção 1 |
Frango Mexicano
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Nuddles de atum
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Arroz com frango
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Peru desfiado |
Pâté chinois (escondidinho)
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Opção 2 |
Pizza fria de |
Pãezinhos com carne de panela |
Submarino de |
Salada de legumes |
Beirute de frango |
Sobremesas |
Frutas |
Muffins de banana |
Frutas em conserva |
Torta de açucar mascavo |
Biscoito / Compota de frutas |
O cardápio não é tão saudável quanto deveria ser, com sobremesas doces e a presença de itens meio junk como pizza e ketchup. Mesmo assim alguns itens são completamente proibidos, a escola possui um documento chamado “Política Alimentar” que indica os item que não são servidos e não podem se trazidos de casa na lancheira:
- Refrigerantes, e sucos com açúcar adicionado – a maioria dos sucos aqui contém apenas açúcar da fruta, ver outro post sobre sucos
- balas, jujuba, chicletes e afins
- barras de chocolate
- barras de marshmallow – seria PopTarts?
- qualquer alimento industrializado cuja a lista de ingredientes comece por “açúcar”
- qualquer alimento frito, incluindo a famosa batata frita
- os alimentos contendo nozes ou amendoim são proibidos por razões de alergia.
A ideia é tentar aliar a alimentação nutritiva e saudável com o gosto infantil. Mas excluindo sumariamente dois items: açúcar e fritura. Sendo assim crianças que trazem seu lanche e almoço de casa devem respeitar a política alimentar.
Medindo resultados
Para avaliar se as medidas funcionam ou não, nada melhor do que estatísticas. O quadro abaixo compara alguns dados sobre obesidade infantil do Canadá, do Brasil e dos Estados Unidos.
*IMC . índice de massa corporal
** Devido a diferenças de metodologia e arredondamentos este gráfico não tem valor de pesquisa científica. Ver metodologia abaixo.
Os número acima são calculados para crianças de 6 a 11 anos, no Brasil o IBGE usa a faixa de 5 a 9 anos. Na média (coluna vermelha) as crianças brasileiras são mais magras, seguido pelas crianças canadenses e por último as americanas. Mas, como se sabe, o Brasil possui muitas desigualdades e apesar da média menor o número de crianças além da faixa da obesidade supera as crianças canadenses. Isso mostra que existem uma porcentagem maior de crianças obesas (coluna azul) no Brasil do que no Canadá, mas também existe mais crianças abaixo do peso, puxando a média brasileira para baixo.
Nos três países a obesidade é um fator preocupante, e que vem crescendo assustadoramente no Brasil. Acredito que as medidas restritivas introduzidas nas escolas canadenses devem o crescimento desse número como tem acontecido no Brasil e, quem sabe, até diminuí-lo no longo prazo.
Minha percepção pessoal
Antes de me mudar para Montreal eu tinha a ideia de que eu encontraria, como nos Estados Unidos, um auto nível de sedentarismo e predominância de fast/junk food. Mas o quebequense típico é extremamente ativo, esportista, se alimenta bem e isso vem desde a infância. Pelo visto, o sedentário fora de forma aqui sou eu!
Às vezes ouço o crack típico de latinha abrindo, olho pro colega de trabalho pensando – Aha! Tomando uma Coca-Cola, vou olhar pra ver se é diet! – e me deparo com o colega tomando V8 – sim, suco de vegetais!
Diferentemente dos EUA, você não nota um número alto de pessoas obesas em Montreal, talvez porque entre as províncias Canadense, as mais populosas – BC, Quebec e Ontário – são as três com o menor nível de obesidade entre adultos. Também é verdade que o número de obesos nível 3 – a chamada obesidade mórbida – no Canadá é bem inferior que nos EUA.
Métodos
Foi difícil montar essa tabela tendo-se em conta que os três países usam métodos diferentes para definir o que é obesidade e o que é sobrepeso. Os EUA adotam sua própria medida definida pelo CDC e baseada no IMC, o Brasil adota os padrões da OMS (Organização Mundial de Saúde) e o Canadá usa o método da IOTF (International Obesity Task Force). O problema é que o método da IOTF classifica menos crianças como obesas e mais com sobrepeso. O valor de 12.5% é estimado pela Agencia de Saúde Pública do Canadá como compátivel com o método da CDC, pela OMS seria 12.7%.
Os links me ajudaram a obter os dados nesse post:
Canadá
Crianças:
http://www.phac-aspc.gc.ca/hp-ps/hl-mvs/oic-oac/chi-jeu-eng.php
Adultos:
http://www.phac-aspc.gc.ca/hp-ps/hl-mvs/oic-oac/adult-fra.php
EUA
http://www.cdc.gov/nchs/data/hestat/obesity_child_07_08/obesity_child_07_08.htm
Comparativo Canadá x EUA
http://www.statcan.gc.ca/pub/82-625-x/2010001/article/11090-eng.htm
Brasil
http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=1699&id_pagina=1
Média IMC no Brasil, artigos acadêmicos:
Estudo em MG:
http://www.efdeportes.com/efd139/indice-de-sobrepeso-e-obesidade-em-escolares.htm
Estudo no RS:
http://artigocientifico.uol.com.br/uploads/artc_1155424098_46.doc
Boa noite, Adriana e Sandro
Não me pergunte como fui parar no blog de vocês.
Maravilhoooooooso!
Só li alguns pouquíssimos posts ( é assim que chamam? )mas estou encantada, parece que estou aí também vivenciando as experiências de vocês.
Não li a parte que com certeza vocês falam de como e porque foram parar aí, mas aos poucos vou lendo, afinal já faz quase 3 anos de diários…vou devagar.
Conheci Montreal em 1999 no reveillon.
Meu marido era da Varig e fomos eu e nossos 4 filhos no vôo dele…saudades, muitas saudades…
Mais uma vez, parabéns.
Abraços e sejam muito felizes.
Marcia Natal
O problema da obesidade no Brasil está aumentando e o governo já anunciou uma campanha contra a obesidade mas escolas.
Aqui as pessoas estão também mudando os hábitos alimentares e com um maior acesso a alguns itens as pessoas estão trocando o saudável arroz e feijão por frituras e gorduras!
Muito legal a pesquisa!
Abs.,
Neila
Parabéns pelo trabalho que vc teve para escrever esse post. Gostei muito e apesar de não ter filhos me preocupo com a obesidade infantil, e acho que obesidade em geral, pois creio que de uma maneira ou de outra o seu crescimento acaba afetando a sociedade como um todo.
Como sempre seu blog é muito instrutivo além de divertido!
Abs,
Camila
Super interessante e bem elaborado post. Parabens!
Eu morei 2 meses apenas em Montreal, mas quando cheguei em Ontario a impressao que tive e que a galera quebeca da de 10 x 0 no quesito atividade fisica e peso, sempre ativos as ruas de Ile-de-Soeur estavam lotadas de gente caminhando, correndo etc.