Quando estudei na PUC Paraná em 2001 tive uma matéria chamada Ética. Como o programa de especialização é bem compacto, essa matéria foi ministrada nas férias e era estranho chegar no campus completamente vazio para estudar. Por sorte pegamos um professor muito bem humorado e que dava aulas com conteúdo. Uma das aulas que eu não me esqueço foi quando ele nos apresentou o professor tranqueira e o aluno tranqueira.
O assunto na época era o ensino superior, suas formas de avaliação e as distorções do modelo atual. O problema está nos trabalhos e exames usados para avaliar o quanto o aluno aprendeu, gerando alunos que estudam apenas para a prova, e professores que ensinam apenas a prova, enquanto a escola deveria sempre ensinar para a vida.
O aluno tranqueira é aquele que pergunta no primeiro dia de aula qual será o calendário de provas, já que ele pretende faltar muitas aulas mas não quer perder a prova. Esse aluno não está preocupado com o que deixará de aprender faltando às aulas, desde que tire a nota suficiente para passar. Ele estuda para a prova e depois esquece tudo, sai da escola como entrou.
O professor tranqueira é aquele que ensina para que o aluno tire dez, mesmo que as questões da prova não tenham nenhuma aplicação prática no mundo real. Esse professor odeia quando o aluno falta, mas muitas vezes suas aulas são desprovidas de propósito e enfadonhas. E quando ele quer mais atenção da classe diz: “prestem atenção porque isso vai cair na prova”.
O imigrante tranqueira
Esse problema do ensino orientado à prova é mundial e ultrapassa os portões das universidades. Empresas tem dificuldade em avaliar seus funcionários e recrutadores tem dificuldades em avaliar seus candidatos. Da mesma forma o governo do Québec também encontra problemas ao avaliar os candidatos à imigração.
Isso originou mudanças no processo de seleção que incluirão a obrigatoriedade dos testes oficiais de Francês e Inglês. Essa mudança deixou algumas pessoas preocupadas e outras completamente sem chão.
O que tenho percebido é que algumas pessoas tem se tornado, talvez por força do hábito, imigrantes tranqueira, principalmente no que tange ao estudo do francês. Muitas pessoas estavam estudando francês para a entrevista, seguindo a fórmula mágica:
- avaliar no site do ministério, o nível mínimo de francês necessário segundo o seu perfil;
- completar as horas exigidas, falou-se muito em 150 horas;
- estudar a lista de perguntas que seriam feitas na entrevista;
Para aqueles que estavam seguindo esse roteiro, o teste obrigatório tornou-se um pesadelo. Para aqueles que estavam estudando francês para valer o teste é apenas mais um desafio burocrático – e orçamentário – e uma comprovação oficial do que eles realmente aprenderam sobre a língua de Vítor Hugo.
Gostaria de desmistificar os itens acima:
Nível mínimo necessário segundo a avaliação online
É muito arriscado ir para entrevista com o nível mínimo exigido pelo teste online, se você tiver problemas na avaliação de outros quesitos e os pontos de conhecimento de francês podem ser a diferença. Outro problema é que o nervosismo pode atrapalhar, fazendo você aparentar menos conhecimento do que realmente tem.
Comprovante de horas
Quando entrei nesse processo as pessoas falavam em nível alcançado (básico, intermediário e avançado), ultimamente tenho visto as pessoas colecionarem horas, sendo 150 um mínimo teórico. Grande bobagem, uma pessoa pode chegar no avançado em 150 horas e outra pessoa pode não sair do básico. Uma pessoa pode aprender francês por conta própria através de livros ou na Internet sem ter nenhuma hora comprovada. Na média, 150 horas servem apenas para terminar o nível básico e o nível básico não serve pra nada.
A regra antiga dizia que era necessário comprovar como você chegou no nível declarado, você poderia comprovar as horas estudadas através de certificados ou outra coisa. Poderia ser uma declaração que seu pai nasceu na França e sempre conversou com você em francês… a avaliação final ficava por conta do entrevistador. Por causa da falta de um padrão de avaliação é que foi introduzido o teste de francês.
Lista de perguntas
Eu confesso, fiz aulas de preparação para a entrevista seguindo a famosa lista de perguntas e, obviamente, a entrevista não tem nada a ver com essa lista. Primeiro porque o entrevistador não usa nenhum roteiro previamente estabelecido, segundo porque é uma entrevista, um bate-papo e não uma prova oral.
Por outro lado, preparar-se para explicar detalhes da sua profissão, as razões pelas quais você decidiu imigrar e outras coisas mais são bem importantes.
E agora?
A intenção desse post não é criticar ninguém, mas deixar um alerta. O processo de seleção do Quebec está mudando para avaliar melhor os imigrantes. O intuito é otimizar o programa de francisação e trazer mais imigrantes prontos para o mercado de trabalho. Mas isso pode ser bom também para os candidatos à imigração, sim esse teste pode ser bom para você.
O verdadeiro teste de francês acontece quando você desembarca no P. E. Trudeau ou no Jean-Lesage, e continua na hora de alugar um apartamento, no teste da carteira de motorista, na hora de se inserir no mercado de trabalho, etc. Você pode poupar muita dor de cabeça chegando aqui com um francês no mínimo funcional.
Mas será que eu não posso imigrar primeiro e aprender francês no Quebec depois? Sim claro, se você tem os recursos de tempo e dinheiro para isso tudo bem, é uma boa ideia. Mas tenha certeza de que isso faz parte do seu planejamento e que não seja apenas uma forma de cortar caminho e chegar antes. E lembre-se que mesmo com a ajuda da francisação, no final, quem paga a conta é você.
Sandro, poe um X ai pr’eu assinar tb!! 🙂
Também acho que a régua mais em cima, apesar de mais cara no Brasil, deixa de custar muito mais para o próprio imigrante no Canada, ja que cada mês desempregado pode custar mais do que os custos das provas no BR. Mas muita gente infelizmente nao consegue ver ou acreditar nisso, parece que só a vivência na marra é que conta.
Essas 150 horas mal da para responder para a aeromoça qual dos pratos se optou na refeiçao a bordo, quanto mais para se inserir no mercado de trabalho. Encurtar o caminho para vir pode significar também encurtar o caminho para voltar para o Brasil, levando de “brinde” uma enorme decepçao. Mas se o imigrante estiver melhor preparado em varios aspectos, creio que as changes de “insucesso” serao bem menores.
abraços a famíia toda!
Erika
Sandro
Também concordo com vc!
A “mania” de fazer de qq jeito pra ver no que dá só leva à mediocridade e decepção.
Já li em vários blogs que quanto maior for investimento aqui no Brasil em estudo, menor será a chance de insucesso.
Abraço
Cleuber
Justo, justissimo Sandro. Nada mais do que a boa e velha REALIDADE.
NAO EXISTEM ATALHOS, somente estudo e trabalho.
[]`s
Olá, no nosso caso o teste só nos deixou meio “borocoxo” pois estávamos com o envelope do dossier pronto esperando apenas a carta do prof. que estava na França… então, com a necessidade do TCF, só adiamos um pouco (4 meses neste professo faz muita diferença, né?) rsrsrsr
no mais é deixar as coisas acontecerem como tem que ser…
desde o primeiro dia de aula o prof. nos disse que nao ensinaria frances pra entrevista e sim pra vida que desejamos ter por ai… e assim tem,
Um abraço,