Já faz algum tempo, o site da revista Galileu publicou um artigo sobre pesquisa sobre as melhores cidades do mundo para pedalar, a pesquisa teria sido feita por um outro site: askmen.com. De acordo com essa pesquisa, Montreal figura em quinto lugar na lista de cidades amigas da bicileta e, para minha enorme surpresa, Curitiba aparece em quarto lugar.
Mas, como assim? Será que seria isso mesmo? Como morei em Curitiba e hoje moro em Montreal, me dou ao direito de discordar do resultado dessa pesquisa.
Respeito ao ciclista
Em primeiro lugar, por maior que seja o número de ciclovias, em algum momento o ciclista terá que dividir espaço com os automóveis. Aí surge a primeira diferença, as regras de trânsito. O código de trânsito do Quebec prevê diversas situações envolvendo bicicletas e as magrelas são um dos motivos de dar-se tanta atenção ao famigerado “ângulo morto” – para mais detalhes leia este outro post.
No Brasil, um motorista que queira virar a direita num cruzamento, dá seta e entra. Pelas regras de trânsito daqui isso é uma infração, pois quando um veículo entra a direita a prioridade é de pedestres e ciclistas atravessando o cruzamento. Muitas vezes os carros param, mesmo em avenidas preferenciais para dar prioridade aos pedestres e ciclistas.
Investimento governamental no ciclismo
Curitiba tem mais de 100km de ciclovias, o que é um número realmente invejável, embora a conservação seja discutível. O problema é que o investimento fica por aí. Em Montréal existe um investimento na bicicleta como meio de transporte, incluindo a criação do programa Bixi, e diversos outros eventos para incentivar o uso da bicicleta.
Na escola das crianças houve uma campanha de incentivo ao transporte alternativo e as crianças que iam para escola pedalando, patinando ou a pé ganhavam um adesivo especial no portão. Desde que a neve derreteu o bicicletário da escola está sempre lotado. É assim também no centro, onde cada poste de parquímetro tem um lugar especialmente desenhado para prender a bicicleta, bem melhor do que prender no poste.
Há algumas semanas aconteceu em Montreal o evento Tour de l’île, é um evento programado por uma ONG com apoio da iniciativa privada e do governo da cidade e da província. No domingo diversas ruas foram fechadas para que trafegassem as bicicletas. O trânsito ficou um caos, mas e daí? Nesse dia o que importa é pedalar. Em Curitiba existe a Bicicletada, que não tem apoio nenhum do governo, sendo mais uma iniciativa civil para reivindicar o espaço para os ciclistas.
Segue uma vídeo-resportagem do meu amigo Jabez sobre o Tour de l’île.
Pra que serve uma bicicleta
Talvez a maior diferença de mentalidade entre curitibanos e montrealenses esteja na ponto de vista sobre a finalidade das bicicletas. A maior parte das ciclovias de Curitiba liga parques e áreas de lazer, não existindo espaço para bicicletas no grandes eixos de transporte da cidade. Isso reflete o pensamento de que bicicleta serve para lazer.
Como as ciclovias não levam às áreas mais centrais, muitos ciclistas acabam não resistindo à tentação de usar as canaletas – para os não curitibanos: canaletas são as vias exclusivas para os ônibus biarticulados – e correm o risco de se envolverem em acidentes terríveis.
Em Montreal a bicicleta é vista como um meio de transporte para trabalhar e estudar. Meu chefe vem para o trabalho de bicicleta quase todos os dias, inclusive debaixo de neve. No inverno passado ele estava todo contente pois tinha achado pneus de neve para a sua bicicleta. Mesmo as pessoas que moram muito longe do trabalho ou da escola podem usar a bicicleta, pois existe espaço reservado para as magrelas nos trens e no metrô.
São esse pequenos detalhes do dia a dia que mostram o respeito à bicicleta como meio de transporte. No fim de semana da GP de Montreal de Formula 1, a rua Crescent fica fechada para festividades e ações promocionais – aliás, a rua Crescent está sempre fechada para algum evento. Carros de serviço tomaram conta da ciclovia na Boul. Maisonneuve Ouest, então as autoridades tiraram espaço dos carros para improvisar uma ciclofaixa do outro lado da rua, favorecendo os ciclistas – foto ao lado. Abra a foto em alta-resolução e conta quantas bicicletas aparecem na foto.
Claro que nem tudo é perfeito, existem problemas de manutenção nas ciclovias, em muitas ruas as bicicletas disputam espaço com os carros. Mas Montreal está na frente de várias cidades em relação ao uso da bicicleta, perdendo apenas para cidades européias como Copenhague e Amsterdã.
Finalizando esse post eu me pergunto: “PORQUE AINDA NÃO COMPREI MINHA BICICLETA???”
Compare você mesmo
Dificuldades em usar a bicicleta como meio de transporte em:
Curitiba
http://www.youtube.com/watch?v=6qA9kr_L0Tw
Montreal
São Paulo
New York
http://leslapins.wordpress.com/2011/06/21/respeito-as-ciclovias/
Você tem até domingo para comprar a sua. Corra.
Thiago, não dá pra ir de Bixi??? 🙂
É verdade… se é tão bom assim pq vc ainda não usa? ahahahaha… Brincadeiras à parte, essa é uma prática q eu rezo pra poder aproveitar aí. Não falo de embalo, adoro mesmo pedalar e só não faço isso em SP por razões óbvias. Se eu puder usar a magrela no meu dia-a-dia aí, vou ser estilo seu chefe. Vou ficar feliz até com pneu de inverno… ahahahaha! Acho q a atitude no mundo precisa mudar e essa é uma pequena parte q cada um pode trazer pro seu cotidiano.
Abraço!
Pois é, você tem que comprar uma magrela !!
Tenho um amigo que foi fazer mestrado na Holanda e acabou montando uma loja de concertos de byke, ganha muito mais dinheiro do que os professores da faculdade!! hehehee
Já ai no Canadá é fácil encontrar estas lojas de concerto de bicicletas?
Abraço Brasileiro…
Boas Sandro,
Vou te dar o exemplo da Cidade do Québec, onde pude experimentar diversas rotas de ciclovia, ou chemin de vélo ou piste cyclable. Nessa cidade se tem aproximadamente 260 km de ciclovias (http://www.ville.quebec.qc.ca/citoyens/loisirs_sports/velo.aspx). Entretanto, encontrei somente na Bolevard Laurier um espaço dividido com os carros e ônibus que se ode utilizar para ir até a ULaval. Ou seja, quase 100% dos percursos são destinados para lazer. Assim, para ir ao trabalho na maioria das regiões dessa cidade, é preciso utilizar as ruas divididas com os veículos automotores. Um detalhe importante é que nas vias de fluxo rápido (60 km/h ou mais – nas perimetrais da cidade) é proibido o trânsito de pedestres e bicicletas. Ao que parece, o trânsito da cidade foi esquematizado de modo a incentivar o transporte privado (automóvel, especialmente), pois não se tem metrô, e as linhas de ônibus prevalecem num sentido da cidade apenas. Além dessas características negativas, há também o clima, que além do inverno frio e com neve, inclui o vento grande parte do ano. Efetivamente as ciclovias estão abertas de 15 de maio a 15 de outubro, mas na prática há também a chuva, que aparece ao menos 3x por semana nos períodos de “calor”. Tudo isso não impede o uso da bicicleta, mas a meu ver acaba tornando menos prazeiroso. Em comparação, em Porto Alegre, mesmo no “inverno” (hoje pela manhã 7oC e eu fui na academia de bicicleta) é possível utilizar a bicicleta, porém o que mais dificulta a vida do ciclista por aqui é a ausência de ciclovias permanentes, embora se utilize nos domingos e feriados grande parte das faixas exclusivas para ônibus. Além disso, há a falta de educação dos motoristas. Mas ainda há esperança, pois existem campanhas e grupos de ciclistas que lutam para melhorias no sistema de circulação das bicicletas, que muita gente aqui não usa devido ao perigo de trafegar na rua. Só quem realmente gosta é que se arrisca, porque deixar de se fazer o que se gosta é o começo de dar cabo a si mesmo.
Abraço,
Fabrício
Legal Sandro… falando em bicicleta eu com minha esposa estamos procurando as nossas aqui em Calgary; tem mtos pathways, muito bonitos e de alta qualidade. Mta gente anda de bicicleta por aqui, moro de frente a um pathway, e o dia inteiro é um vai e vem de bicicletas…. parece que esse povo não trabalha!!! rsssssss
legal o post!
A meu ver o que ainda falta aqui é o respeito às leis de trânsito por parte dos ciclistas, sim, por parte deles mesmo, pois se você observar são poucos os que usam capacete e quando andam na ciclovia, não param no sinal vermelho, andam na contra-mão, etc. Isso me rendeu um acidente 3 semanas atrás, onde o ciclista estava totalmente errado. Acho que pelo fato da lei proteger o ciclista e eles andarem de bike desde que são bebês praticamente, eles são muito negligentes com muita coisa.
Isso é só um aspecto negativo nessa maravilha do apoio ao transporte alternativo que temos aqui em Mtl. No Br era impossível de usar, mesmo à passeio. Aqui, mesmo em ruas onde não há ciclovia, os motoristas respeitam mesmo os ciclistas, sempre dando preferência e principalmente, dando uma boa distância de segurança. Adoro isso!
Bom… Já tive prática em andar com a magrela… quando era criança!!! Rsrs… Hoje, o Fábio e eu temos duas aqui em casa… Paradas, esperando ter um tempinho pra consertá-las pra efetivamente poder usar… :-S
Mas já tentei andar pelas ruas de Curitiba sem muita prática e destreza… Dá um medão ser atropelada!
Se tivéssemos(nós curitibanos)mais ciclovias e condições pra usar a bici, com certeza o transporte público estaria mais vazio…
Por outro lado, imagina se nos nossos biarticulados fossem reservados espaços pra deixar a magrela?!?!?!? Aí sim que mais ninguém entrava ou saía nas estações tubo… Pra quem conhece Curitiba, tente entrar ou sair de um ônibus, na Praça Eufrásio Corrêa (em frente ao Shopping Estação) a partir das 17hs!!! Loucura total!!
Ótimo post, Sandro… Sempre acompanhamos vcs… uma forma de “namorarmos” um pouquinho Quebec antes de chegar aí! Abraço!
Olá Sandro.
Ainda outro dia falei para minha esposa: no Canadá quero ir trabalhar de bicicleta, ela riu de mim.
Com esse seu post fiquei ainda mais animado!
Continue escrevendo, tem sido muito útil suas experiências relatadas aqui.
Em setembro daremos entrada para o visto, a ansiedade começa a ficar maior.
Se possível gostaria de torcar e-mails com vocês.
Abraços