No último mês de março completamos dois anos nessa louca aventura migratória. Tenho certeza que muitos gostariam de ler aqui um balanço completo da imigração com todos os prós e contras. Lamento não poder atender a essa expectativa, pois ainda somos recém chegados.

Isso mesmo, para todos os órgãos que trabalham com imigração, tantos os governamentais como as ONGs, dividem os imigrantes em três faixas: de 0 a 5 anos são os recém-chegados, de 5 a 10 anos em adaptação, e 10 anos em diante os integrados. Em outras palavras, estamos apenas engatinhando num processo de adaptação que vai durar ainda muito tempo.

E aí, está valendo a pena?

Responder essa pergunta não é tão fácil como parece, porque existem vária dimensões a serem medidas: financeira, acadêmica e intelectual, familiar e social e ainda, espiritual. Geralmente essa pergunta se aplica ao lado financeiro então sim, está valendo. Estamos nadando em rios de dinheiro? Não! Mas vemos perspectivas aqui que não víamos no passado, o futuro parece promissor.

No lado acadêmico, as oportunidades aqui são enormes, a Adriana já terminou o certificado de francês na UdM e vai partir para um outro certificado ou bacharelado no fim do ano. O fato é que temos acesso aos estudos como nunca antes pudemos ter, em universidade cujo nível está bem acima de qualquer curso que poderíamos sonhar em fazer no Brasil.

Com tantas dimensões a se medir o melhor seria fazer uma série de posts avaliando nossa situação medida de ângulos bem diferentes. E é isso que pretendo fazer, para não deixar esse post vazio segue uma update do balanço de um ano:

1. Línguas

Com um ano estava deprimido pelo fato de não ser fluente. Após dois anos percebo que ainda falta muito mas consigo conversar com as pessoas em francês e em inglês mesmo matando um pouco a gramática e a pronúncia. Estou mais feliz com a minha fluência e sei que o que falta agora é estudar mais.

A Adriana está com um nível invejável de francês mas se ressente de ter deixado o inglês esfriar. Paciência, com certeza estaremos trilíngues quando completarmos 5 anos.

As crianças são um caso à parte, a nossa filhota está aprendendo a ler e escrever e tem notas a cima da média da turma superando crianças que falam francês desde o berço. E o pequeno está começando a falar inglês, já fala bem francês e domina o português, levando em conta que ele só tem 3 anos…

2. Trabalho

Continuo feliz com o ritmo de trabalho daqui que mesmo sendo estressante, é muito mais tranquilo que no Brasil. Amo chegar em casa as 18h, trabalhar de casa quando não estou me sentindo bem ou quando o clima não colabora, mesmo que o laptop antes só na mesa do escritório tenha vindo para em casa  todos os dias, ficando ligado e operante até meia noite, mas só na fase de final do projeto.

3. Estudo

Infelizmente não tenho conseguido estudar, apenas um de nós pode fazer isso e mesmo assim fica puxado. Alguém precisa puxar minha orelha para eu estudar mais inglês e francês. No caso da Adriana, ela recebeu o diploma em casa hoje, feliz da vida. Em setembro começamos mais uma fase, agora visando trabalho, conforme vocês vão ver no post que vem logo sobre o Emploi Quebec.

4. Crianças

Passado o estresse da imigração – na verdade é a ansiedade dos pais que afeta os filhos – as crianças estão se saindo muito bem, principalmente agora 2011. O importante é que eles conseguem se integrar com amigos na escola e fora dela, e se comunicam perfeitamente.

5. Finanças

No post de um ano atrás escrevi: “Imigrar custa caro. ” Sim custa caro! Mas hoje acho que na verdade é um investimento, em línguas, estudo, cultura e experiência de vida. Após dois anos acho que posso dizer que estamos começando a ver os frutos, e sabemos que estamos bem acima da média. Muitas pessoas precisam de 5 a 10 anos para se encontrar novamente no patamar deixado no seu país de origem. Deus tem nos abençoado e somos gratos por isso.

6. Qualidade de vida

Estamos relativamente felizes com a qualidade vida que temos, mas não completamente. Acontece que aqui não é o paraíso, e também que perdemos a noção de como era antes. Alguns problemas que tínhamos a um ano foram resolvidos: mudamos para um apartamento bem melhor, temos máquina de lavar roupas em casa, agora temos um carro que não dá defeito ainda, nos habituamos ao inverno, etc.

Tem muitas coisas que não entraram nos eixos ainda, mais a gente não está com pressa. E  se eu ficar reclamando vai estragar a festa. Feliz 2 anos!