Depois de quase dois anos vivendo no Quebec, finalmente conseguimos visitar nossos amados parentes e amigos no Brasil. Era grande a expectativa da inevitável comparação da vida no Canadá com a vida que deixamos para trás. Segundo a experiência dos amigos, essa comparação traria grandes choques que nos ajudaria a revalidar a nossa decisão de ter imigrado. Seria o momento perfeito para avaliar nossa situação. Ou não!
Em primeiro lugar é preciso dizer que a viagem foi ótima e tudo deu certo, apesar das conexões malucas que pegamos, com direito a troca de aeroporto em Nova Iorque. Mas isso é outra história. Chegamos ao Brasil onde pudemos aproveitar coisas que estávamos ansiando:
- Ter a família pra ficar com seus filhos enquanto saímos pra namorar e sem pagar babá. Isso realmente é bom demais;
- Comer pastel e tomar caldo de cana à vontade, na feira do bairro onde a gente (Adriana) cresceu;
- Sentir que nossa família continua a mesma com seus defeitos e qualidades, sempre pronta pra nos receber de volta;
- As praias do Brasil, apesar da chuva e tudo;
- Rever lugares onde vivemos momentos legais de nossa vida;
- Doce de leite, requeijão, feijão, papaya, pão francês, etc;
Todas essas coisas boas nós não temos aqui no Canadá, mas também não temos algumas coisas ruins que sabíamos que iríamos encontrar por lá.
Comparações negativas mas que não surpreenderam
Como brasileiro é barulhento né? Tinha esquecido disso. Ainda no momento do embarque para São Paulo já notamos algumas vozes mais altas e exaltadas. Um casal discutia onde colocar as malas, cada um em um corredor do avião com cinco poltronas no meio. Imagine o volume da voz, olhei para a Adriana com uma cara de “eu também era assim né” ela entendeu e concordou com a cabeça.
A televisão é uma coisa séria no Brasil. Na TV cultura ainda existem aqueles desenhos educativos pela manhã, lembrando a programação da TéléQuebec. Mas os outros canais abertos continuam fracos e o pior de tudo, quanta baixaria! Teve uma hora que tivemos que desligar a TV, nosso filhos não tem contato com temas pesados e o linguajar baixo comum nas novelas e outros programas de TV que passam a partir das 18 horas. Até os telejornais no Brasil falam muito de violência e com imagens explicitas demais.
Estranhamos também o custo de vida. Coisas que achamos caro no Canadá são baratas no Brasil e vice-versa. Mas de um modo geral achamos os itens básicos um tanto caros. Principalmente o valor do supermercado nos espantou, não sei se tivemos problema comparando reais com dólares ou convertendo a moeda, mas a nossa lembrança era que a comida no Brasil era mais barata. Talvez tenha sido no passado mas não é mais.
Mesmo assim notamos supermercados cheios e pessoas comprando. Percebemos que uma fatia da população que não tinha acesso a produtos fora da cesta básica, está agora capacitada a consumir que antes pertenciam apenas à classe média e alta. Mesmo que para isso tenha que comprar panetone a prazo. Incrivel, mal acreditei no cartaz do panetone em 4 vezes sem juros no corredor central do supermercado.
Outra coisa bizarra é o atendimento. Não estou falando da cordialidade, pois isso é uma qualidade do brasileiro, mas estou falando da eficiência. Cada visita ao supermercado levava mais de 30 minutos na fila do caixa. Voltando à Montreal fui fazer uma compra rápida no Metro e a moça do caixa era tão rápida em passar o produtos que eu não conseguia tirá-los do carrinho a tempo. Que diferença!
O “prazer” de dirigir
Dirigir no Brasil é um capítulo a parte. Tivemos a “alegria” que dirigir pelas, ruas de São Paulo, pela Régis Bittencourt e verificar que pouca coisa mudou. A agressividade dos motoristas em São Paulo não nos causou tanto espanto, mas confesso que tinha perdido o costume de dirigir com motos por todos os lados.
Nas estradas pouca coisa mudou. A BR 116 está pedagiada no trecho conhecido com Régis Bittecourt e o que mudou? O asfalto. Os buracos praticamente sumiram o que é um boa coisa. Mas os trechos de pista simples numa estrada com esse movimento são inaceitáveis. Some-se a isso os caminhões saídos do ferro velho com motoristas e imprudentes e cargas pesadíssimas e também os condutores de automóveis impacientes e apressadinhos. Somos obrigados a dirigir com atenção triplicada, cuidando de quem vem na frente, atrás e de nós mesmos.
Resultado: em 400 km vimos 3 carros acidentados, incluindo um com as rodas pro ar e uma pessoa, provavelmente vítima de um atropelamento, recebendo massagem cardiáca no acostamento. Chocante. Mas não surpreendente. Em poucos minutos atrás do volante voltei a dirigir como um brasileiro – afinal a palavra PARE numa placa é apenas uma sugestão.
Algums coisas me surprenderam positivamente
Existe um clima em relação a economia bem diferente do que nós deixamos quando saímos do Brasil em 2009. Naquela época falava-se muito de crise mundial, desemprego e muita quebradeira. Agora o otimismo é maior e isso pode ser visto no consumo, lojas de roupas e sapatos estavam lotadas e os supermercados também.
Nós havíamos esquecido como as pessoas no Brasil são mais abertas e cordiais. Pessoas desconhecidas falavam com a gente em qualquer momento – numa língua exotica chamada português – com direito até a piadinhas. Isso até que é legal mas essa abertura traz também alguns incomôdos.
O choque que não veio
Vários amigos me aconselharam quanto ao choque de voltar ao Brasil depois de 2 anos. Fiquei esperando o choque e esse não veio. Algumas coisas nos causaram espanto pois estamos desacostumados. Mas logo que nos encontramos no mesmo lugar e na mesma situação o nosso instinto brasileiro volta a tona.
Isso me fez pensar que nós ainda somos parcialmente inseridos na cultura do Canadá e do Quebec e que lá no fundo ainda somos brasileiros. Essa dualidade chega a ser incômoda, pois, bem lá no fundo ainda mora alguém que fala alto (nem que seja dentro de casa), dirige agressivamente, trava as portas do carro quando vem um pedinte no sinal e etc. Mesmo aqui no Canadá ainda temos o hábito de trancar bem o carro e ficar de olho nas crianças em locares públicos, temos até um alarme instalado em casa. Ou seja, o brasileiro que vive dentro de nós precisou se readaptar um pouco ao Brasil, mas no fim achou tudo isso normal.
Nota: as opiniões apresentadas nesse post refletem a visão particular do Sandro e da Adriana. Cada experiência é única e portanto diferente. Não estamos dizendo que o Canadá é melhor que o Brasil nem o contrário. Apenas estamos comparado a experiência que estamos adquirindo tendo morado em ambos os países. Você pode concordar. Ou não!
Sandro/Adriana,
Ótimo texto, parabéns! Espero q tenham desfrutado bem os dias no BR, com a família e amigos, respirando o ar puro de SP… ahahaha! Brincadeira. Enfim, imagino q uma volta dessas deve impressionar um pouco, mas como vc disse talvez 2 anos sejam suficientes apenas para deixar-nos divididos entre as 2 culturas, costumes, etc. Desejo um bom ano pra vcs e q daqui 2 anos (ou sabe-se lá qdo) vcs possam experimentar de novo uma viagem dessas um pouco mais certos de qual lado “do muro” vcs estarão… ou não! ahahah…
Forte abraço!
ola,
olha, eu morei 3anos na suica, mas qndo voltei ao brasil, tbm nao senti choque nenhum, ou agente nao sabe que o brasil é assim mesmo?
Muito bom o texto, realmente a situação financeira do Brasileiro mudou bastante.
ri muito com o panetone em 4x
abraço
Depois de 8 mesesno Canadá fomos passar o fim do ano no Brasil tb.
É claro que ébem menos tempo que vcs, mas já sentimos algumas diferenças,entretanto, mais em um nivel pessoal-social.
Concordo com vc. Não senti choque. Notei as diferenças e pude fazer uma boa comparação dos estilos de vida.
Essa do panetone foi ótima! hehehe.
Abraços!
Oi Sandro!
Que bom que não veio choque,talvez seja pq vcs se mantém informados com o que rola no Brasil mesmo tendo suas rotinas por aquí..
Fomos em setembro e os preços de lá me assustaram também, as carnes que comemos mais estão um absurdo e aquí já temos a malícia de onde comprar cada uma a preços decentes.
Restaurantes bons também não ficaram devendo aos daquí ($)não!!
Abraços!
Boas Sandro,
Retornei ao RS depois de um ano de QC, e para mim o choque foi positivo principalmente por causa do clima e do custo menor de alimentação.
Agora, ir a Sampa é brabo né! Devias ter começado com algo menos radical como Curitiba, ou então Porto Alegre, no verão, que fica uma tranquilidade, especialmente nos fins de semana. São Paulo, ninguém merece!
Abraço e tudo de bom na Era do Gelo!
Fabrício
Olá Sandro,
2 anos é pouco para ter um choque! Fiquei 5 anos nos Estados Unidos. A volta foi chocante. A gente acostuma com polícia na rua, com direitos básico garantidos do tipo: poder conversar dentro de sua própria casa e ser capaz de ouvir o que a outra pessoa está falando – carros com som extremamente alto nas ruas em todo o Brasil parece ser coisa “normal” e irritam, estressam e não te deixam nem ouvir a TV!!!. Segurança nas estradas…basta uma chuva aqui outra ali para todos os buracos aparecem de novo. Penso que existe uma grande indústria por traz disto. Alguém ganha muito dinheiro com operações “tapa-buraco” às custas de prejuízos materiais e vidas seifadas por pura ganância, incompetência.
Claro que o Brasil tem sem lado bom. Adoro pastel e caldo de cana na feira!!! Mas depois de 6 anos de volta ao Brasil ainda não consigo acostumar com falta de educação, descaso, máfia e corrupção. Não que isto seja exclusividade nossa, mas…
Parabéns pelo blog. Sucesso pra vc e sua família
Ola, Sandro!
Fiquei sumida um tempo, mas voltei.. rsss
Nosso balanco ainda eh: q bom q viemos, pois assim podemos ter uma base de viver no exterior X viver no Brasil. Acho q a decisao de voltar ou nao eh muito pessoal e depende da adaptacao de cada um e de se sentimos mais ou menos saudade…
So o tempo vai falar qto mais ficaremos, se voltaremos pro Brasil, etc… por enqto temos q ficar mais um tempo pra avaliar…
Boa sorte pra todos nos… : )
Inte!
Prezados,
por acaso encontrei este blog e, como já tive uma experiência de dois anos no exterior, resolvi tecer alguns comentários:
– Culturas diferentes exigem, de fato, olhares diferenciados;
– Os elementos elencados caracterizam bem o Brasil, porém, considerar certas atitudes como “normais” aos moldes brasileiros reforça a visão de estagnação daquilo que é preciso avançar pois somos seres em constante construção (e evolução!)
– Pela própria natureza da vida humana, a nossa essência vislumbra o que há em nosso entorno e aquilo tudo que nos faz sentir feliz 🙂
Desejo-vos luz, sabedoria e paz.
Obs.: “Lá fora” falam muito do Brasil como país da Samba, Futebol e Mulher Bonita…achei isto muito pouco para o arsenal de qualidade proveniente do nosso belo país. Entretanto, o marketing cai quando se lembram da VIOLÊNCIA estampada nos quatro cantos do Brasil. Lamentável!!!