Como continuação do post anterior, aqui estão as anotações da parte 2.
Minhas anotações – Parte 2
Aonde se estabelecer?
Aonde sua experiência profissional se encaixa?
- Eu conheço muitos engenheiros químicos que poderiam ter um emprego em Fort McMurray (Alberta) em dois segundos
- Mas ficam estagnados em Toronto dirigindo um táxi por que se mudar para Fort McMurray seria como dar um passo atrás no seu status social
- E também porque não há nenhuma pessoa da mesma nacionalidade em Fort McMurray
- O que está faltando é entender a estrutura da sociedade canadense e onde se encaixar nessa sociedade
- Se você tem uma experiência específica, onde ela pode ser usada no Canadá?
- Não é tão óbvio como pode parecer
Exemplo: engenheiro de mísseis
- Tive um cliente que era engenheiro mecânico e veio do Paquistão
- Sua especialidade era construir mísseis
- A chance de ele construir mísseis no Canadá é zero
- Primeiro porque o Canadá não é um grande produtor de mísseis
- Segundo porque ele necessitaria de um Security Clearense que ele nunca conseguirá
- Eu trabalhei com ele para entender o que ele fazia
- Descobri que ele trabalhava na produção da carcaça do míssil
- Ele supervisionava as pessoas que enrolavam as chapas de aço para fazer um cilindro
- A mesma tecnologia é usada para produção de tanques de alta pressão e caminhões-tanque
- Hoje ele tem um emprego, mas ficou 1 ano e meio sem conseguir até encontrar onde se encaixar
Reflexão sobre agências de recolocação no mercado de trabalho
- Muitas agências trabalham com uma gama muito grande de diferentes perfis e formações
- É impossível se especializar em cada área
- Uma saída é a parceria com entidades de classe e ordens profissionais para que essas guiem o profissional na direção certa
- E geralmente a grande questão é em que cidade o profissional ele deve morar
Exemplo: o físico nuclear
- Um rapaz da Rússia que era físico nuclear
- A situação era clara: ele deveria ir para Chalk River (Ontario)
- E trabalhar na AECL (Atomic Energy of Canada Limited)
- Demorou mais tempo do que você possa imaginar, para convencê-lo a se mudar para Chalk River
- Quando ele finalmente se convenceu disso conseguiu um emprego
- E hoje trabalha em Chalk River em uma empresa chamada Bubble Technology
- A questão é: conseguir um trabalho que use a sua experiência – o mais difícil é entender aonde o profissional se encaixa
O desafio do imigrante: a busca do sucesso
Cada um mede progresso (ou sucesso) de uma forma diferente
- Dinheiro
- Poder de compra
- Capacidade de influenciar pessoas
- No meio acadêmico:
- número de papers publicados
- ou número de livros publicados
- No meio militar
- a patente
- número de comandados
- número de medalhas conquistadas
- e assim por diante
O gráfico 6 mostra o que acontece com o imigrante típico (esse tópico se aplica ao perfil de imigrante qualificado, não se aplica a refugiados)
A queda inicial
- Antes de imigrar, o profissional vive num aumento constante do seu nível de progresso e assim continuaria se não tivesse imigrado.
- Esse progresso constante é representado pela linha cinza pontilhada
- Quando os imigrantes pisam no Canadá o seu nível de progresso despenca
- Para alguns continua caindo e caindo e eles decidem voltar pra casa – linha vermelha
- Na minha experiência, um número muito pequeno volta
- Porque é necessário se despir do orgulho para admitir o fracasso
- A vergonha é tão alta que muitos não fazem isso (voltar)
- Eu me lembro de um cliente, profissional indiano, que demorou 1 ano para contar ao pai que havia sido dispensado do emprego
- Agora imagine a vergonha se esse profissional decidir voltar pra casa
A estagnação
- Para algumas pessoas acontece o que está representado pela linha azul do gráfico 6
- Eles fazem meia volta na tendência de queda, se recuperam, mas ficam em um nível abaixo do inicial
- Engenheiros dirigindo táxi
- Médicos limpando hospitais
- Farmacêuticos entregando pizza
- Todos conhecem pessoas assim
A recuperação
- Outras pessoas seguem a linha verde
- Eles combinam o que aprenderam no país de origem com o que aprenderam aqui
- Eles entenderam a sociedade Canadense
- Aprenderam os Soft-Skills canadenses
- E no final tem sucesso, pois o todo é maior que a soma das partes
- Eventualmente o ponto chave é “quando” você irá ultrapassar esse ponto da recuperação (cruzamento da linha verde com a linha cinza)
- É o ponto onde o profissional atinge o mesmo progresso no Canadá que teria se tivesse ficado no seu país de origem
- Esse é o Santo Grahal de todo imigrante
- Porque ninguém vem para o Canadá para “empatar”, vem para ter sucesso
Analisando a situação
- Como o imigrante sabe como estaria se tivesse ficado
- Parentes
- Amigos
- Colegas
- Sabendo o que eles têm, temos ideia do que teríamos se tivéssemos ficado
- Inicialmente, por algum tempo, os imigrantes estão abaixo dessa comparação, na curva de baixo da linha verde
- Mas eles mantêm a esperança de estar lá no alto – ver alvo no gráfico 7
- É importante saber quanto tempo demora entre a chegada do imigrante (queda no progresso) e o ponto em que se recupera e supera a projeção inicial
- Eu diria que isso demora de 6 a 12 anos!
- Depende da profissão
- Profissão em alta demanda é menos tempo
- Também depende de quão flexível e adaptável é o imigrante
A diferença entre as pessoas que ficam na linha azul (gráfico 6) e as que vão para a linha verde reside em quanto o imigrante se sente dono do problema
- Se eu penso que o problema é meu para encontrar um caminho, eu o encontro
- Se eu penso que o problema é dos outros, eles não vão resolvê-lo para mim
- Esse é o grande diferencial
- Para detectar como o imigrante pensa, pergunte: “Qual é o problema”
- Se a resposta começa com “Eles…” este é o problema
- Se o imigrante entende que o problema é dele o que ele deve aprender a recuperar o que ele perdeu ao mudar de sociedade
Quanto se muda de país o imigrante perde duas coisas
- Ele perde a habilidade de ver-se como os outros o vêem
- No seu país de origem você sabe, quando faz alguma coisa, como os outros vão julgá-lo
- Em um novo ambiente você não sabe
- Ele perde a habilidade de influenciar pessoas
- Isso é realmente importante
- No seu país de origem ele sabe o que dizer para obter a reação desejada
- Quando chega ao Canadá isso não funciona porque os outros pensam de outra forma
Como as mudança ocorrem no Canadá (como convencer um canadense a mudar de idéia)
Comparando o processo de independência de 4 países
- Os quatros países já foram colônias inglesas
- Canadá
- EUA
- Índia
- Nigéria
- Quando os EUA se tornaram independentes? 4 de julho de 1776
- Quando a Índia se tornou independente? 15 de agosto 1947
- Quando a Nigéria de tornou independente? 1 de outubro de 1960
- Quando o Canadá se tornou independente? (risos)
- No Canadá isso depende de como se define “ser independente”
- Canadá foi criado em 1 de julho de 1867
- Mas não era independente.
- Não tinha atributos de um país independente
- Não havia exército
- Não havia bandeira
- Não havia constituição
- Não havia cidadania
- Não havia moeda
- Cada coisa foi criada em um momento diferente
- Exército canadense: 1915 (antes os soldados canadenses eram parte do exército britânico)
- Primeiro Premier canadense: 1921
- Banco central: 1934
- Passaporte Canadense: 1947 (antes os passaportes eram britânicos)
- Suprema corte canadense: 1949 (antes era possível apelar em última instância à corte britânica em Londres)
- Bandeira: 1965
- Constituição: 1982
- E a Rainha da Inglaterra ainda é a chefe de estado do Canadá até hoje
As mudanças no Canadá são graduais
- Nos EUA, na Índia e na Nigéria as coisas acontecem de uma vez
- No Canadá as coisas acontecem pouco a pouco, gradualmente
- A única revolução no Canadá foi a Revolução Tranqüila no Quebec entre 1960 e 1972
- Em 12 anos de “revolução” apenas uma pessoa morreu (irônico)
- E quando essa pessoa morreu o exército tomou as ruas de Montreal
- Nota do blog:
- Em 1970 o vice-premier do Quebec Pierre Laporte foi seqüestrado e morto, pela FLQ (Força de libertação do Quebec)
- Esse assassinato disparou uma ação em Ottawa que enviou o exército as ruas de Montreal
- Houve algumas prisões, mas pouca ou nenhuma violência ocorreu
- Mais informações: http://en.wikipedia.org/wiki/October_Crisis
- Compare isso com uma revolução típica na França, na Rússia ou em outros países?
- Uma pessoa morta nem aparece nos jornais, não conta
Como isso se reflete no meio profissional
- A questão é que a melhor maneira de ter uma idéia rejeitada no Canadá é dizer:
- Tive uma grande ideia
- Vamos refazer tudo
- Criar novos processos do zero
- E a produtividade aumentará 50%
- Um canadense vai dizer “Isso nunca vai funcionar”
- E é verdade, mas eles se esquece de completar a frase “Isso nunca vai funcionar, no Canadá”
- Pode funcionar na França, mas não no Canadá
- Eu aprendi duas maneiras de fazer Canadense de mudar de idéia
- Salami aproach
- ???
- Nota do blog:
- Logo após há um corte no vídeo (parte 2 na posição 14:12). Provavelmente ele dize que o “salami aproach” consiste em dividir um grande problema em pedaços menores. O segundo aproach foi cortado
- Quando eu cheguei no Canadá passei por essa dificuldades
- Tentei vender meus serviços conforma a experiência que tinha como free-lancer em outros países, acostumado a vender meus serviços
- Eu cheguei no Canadá com a proposta: vamos fazer uma grande série de treinamentos para todo mundo na empresa
- Não funcionava
- Aí passei começar pequeno e o serviço ia crescendo
- Tornei-me mais influente desse jeito do que trazendo grandes idéias
- Eu realmente recomendo esse método para vocês
Feedback. O principal problema do imigrante após conseguir um emprego
Para manter seu emprego, um imigrante precisa aprender sobre como funciona o feedback no Canadá
Definindo o feedback
- Feedback pode ser negativo, positivo ou neutro
- No gráfico 9, o feedback está representado por um eixo
- Temos um lado negativo e outro positivo
- Quanto mais longe do zero mais forte é o comentário
- No extremo direito – você será promovido
- No extremo esquerdo – você será demitido e mandado de volta pra casa
- Em volta do zero existe o feedback neutro
- Nessa zona, algo foi dito, mas não se sabe se foi bom ou ruim
- Em inglês é um bom exemplo disso é: “it’s interesting”
- Você não tem nenhuma idéia se isso é bom ou ruim, é preciso esperar a continuação para saber
- Outros exemplos são
- “Good point”
- “Nunca tinha pensado dessa forma”
- “Boa tentativa”
- Com a minha mulher eu uso “você está diferente” (risos)
Interpretando o feedback
- Algumas pessoas são mais sensíveis a feedback do que outras
- Mas em muitos países do mundo a média de sensibilidade, comparada ao Canadá, é menor – ver gráfico 10
- Países que são assim
- EUA
- Reino Unido
- Austrália
- Nova Zelândia
- Irlanda
- África do Sul
- Grande parte da Europa ocidental
- Escandinávia
- Países do Leste Europeu
- Oriente Médio
- Israel
- Índia
- Paquistão
- Venezuela
- Nigéria
- Brasil
- Uma vez recebi feedback sutilmente negativo. Eu entendi as palavras, mas não entendi a mensagem
- Não entendi que meu chefe queria que eu mudasse meu comportamento
- Por outro lado, quando eu dava feedback aos meus colegas para que eles corrigissem algo, eu os detonava, os meus comentários eram muito fortes para eles – ver gráfico 10
Mesma mensagem, palavras diferentes
- Todo Zôo do mundo tem placas para não alimentar os animais
- Cada país tem dizeres diferentes
- Em Toronto:
- “Por favor, abstenha-se de alimentar os animais”
- E cinco tópicos explicando porque não se deve alimentá-los
- E termina com “por essas razões pedimos que não alimente os animais”
- Em Paris
- “É estritamente proibido, em qualquer circunstância, alimentar os animais “
- E termina com “Se alguém for pego alimentando os animais será expulso do Zôo”
- Se eu estou acostumado com “É estritamente proibido, em qualquer circunstância…” e leio “Por favor, abstenha-se de alimentar os animais” o que vou pensar?
- Se eu realmente insistir… tudo bem.
- Eu entenderei errado o objetivo do aviso se eu medir com os meus paradigmas
- A mensagem é a mesma “não alimente os animais”
Países do extremo oriente
- Imigrantes do oriente tem o problema inverso – Ver gráfico 11
- China
- Coréia
- Vietnam
- Filipinas
- Nesses países, um feedback negativo sutil de um canadense soa muito forte
- Um feedback sutil de um oriental, soa neutro para um canadense
- Uma vez eu fui tentar vendar um serviço de treinamento em Xangai, e levei 2 horas e meia para entender que a resposta era não
- Eles nunca disseram não. Mas levantavam problemas e a cada solução levantavam outros problemas
- Eles ainda me levaram para almoçar (risos), mas a resposta era não.
- Conclusão: a maneira como feedback é dado é diferente em diferentes partes do o mundo
Agências de recolocação estão cheias de profissionais com grande capacitação, mas que se expressam de forma muita forte, de acordo com os padrões canadenses
Sugiro que o imigrante sempre verifique sua mensagem com alguém que nasceu e criou-se no Canadá para ter certeza que não está forte demais para os padrões canadenses
O tema do feedback continua na parte 3…
Excelente!! Imagino que não seja um trabalho rápido e nem fácil, por isso o parabenizo mais uma vez pela iniciativa. Continuo de prontidão, aguardando a sequência.
Cara…sensacional seu “resumo”.
Eu assisti a palestra inteira…mas as informações organizadas por vc estão demais !!
PARABÉNS !!