O pódio é nosso!

Medalha de ouro

Medalha de ouro

Eu acredito que uma das melhores maneiras de conhecer a cultura de um outro país é observar suas reações quando torcem pela sua pátria durante competições internacionais. Por isso resolvi comentar um pouco sobre as olimpíadas de inverno de Vancouver, que terminaram ontem, sob a ótica dos canadenses.

O título desse post: “o pódio é nosso” é uma tradução livre do inglês “we own de podium“, este é o slogan da campanha do comitê olímpico canadense para Vancouver 2010. Nada melhor para mostrar a importância dos esportes de inverno para um país que passa metade do ano coberto de gelo, isso nas regiões mais quentes. O resultado da campnha eu comento no final do post. Prefiro começar focando em alguns insights culturais percebidos durante as competições.

1. Patriotismo

A principal lição cultural que tirei dessas olimpíadas é que o Canadá não é, não quer ser e não admite ser considerado “o chapéu” dos Estados Unidos – dê uma olhada no mapa para entender essa analogia. É um povo que busca impor sua identidade no cenário internacional, que tem orgulho de seu multiculturalismo e que quer mostrar que os canadenses, apesar das aparências, não feitos de gelo.

Artistas famosos apareceram na cerimônia de encerramento dizendo a frase “eu sou canadense”, destaque para o discurso do ator Michael J. Fox. A mensagem de todos era clara: o Canadá existe no mapa. O engraçado é que depois disso veio uma apresentação tirando sarro dos símbolos canadenses: a polícia montada, castores e alces e folhas de maple; todos representados em bonecos gigantes.

Michael J Fox

Michael J Fox: eu sou canadense

Carnaval canadense

Tirando onda com os símbolos canadenses 1

Tirando uma com os símbolos canadenses

Tirando uma com os símbolos canadenses 2

Patriotismo

Patriotismo em vermelho e branco

2. Lição de perseverança

Joannie Rochette

Joannie Rochette

Um episódio comovente aconteceu durantes os jogos; Joannie Rochette uma patinadora quebequense de primeiro nível perdeu a sua mãe três dias antes do início da competição de patinação artística. Vítima de um ataque cardíaco, a mãe da patinadora de 24 anos sempre acompanhava sua filhas às competições dando-lhe todo o apoio necessário. A princípio todos pensaram que Joannie desistiria da competição ou no mínimo sua performance seria afetada pela perda.

Ela não só superou a perda como ganhou a medalha de bronze. Os jornais no dia seguinte estampavam a manchete: “Bronze para uma menina de ouro!”, tenho certeza que a manchete teria sido parecida, mesmo que ela ficasse fora do pódio. Ela foi lá e patinou, não foi um momento piegas ou “drrrramáaatico” como diria o Galvão, mas apenas uma atleta sendo tratada como uma pessoa e não como uma máquina de ganhar medalhas.

3. Medalhas para o Quebec?

Charles Hamelin - um dos vários quebequense que trouxeram a medalha de ouro

Charles Hamelin – um dos vários quebequense que trouxeram a medalha de ouro

A velha rixa do lado de cá contra o lado de lá não podia ficar de fora, mas apareceu de forma extremamente modesta. A grande crítica foi a ausência da língua francesa e de artistas quebequense na cerimônia de abertura. Falha que foi parcialmente corrigida na festa de encerramento, como indicado pela manchete no jornal Metro de Montreal: “Party canadien et bilingue” (Festa canadense e bilíngee). Para mim é uma ironia lutar pelo francês e usar termo party em lugar de fête.

Defendendo um pouco o lado do inglês, os jogos olímpicos são sempre sediados por uma cidade e não, como acontece na copa do mundo de futebol, por um país. Por outro lado, o número de atletas do Quebec ganhando medalhes para o time vermelho e branco foi bem considerável. De qualquer forma, símbolos nacionais como o hino nacional merecem a versão nas duas línguas.

Não vi ninguém contando quantos atletas do Quebec ganharam medalhas, nem quantos eram de outras províncias. Mas tenho que admitir que acompanhei os jogos por redes nacionais, não sei o que a mídia local falou. Mas é claro que cada atleta do Quebec que ganhou uma medalha se tornou um motivo de orgulho local. Mas te um modo geral acho que os jogos promoveram mais a união que o separatismo, mas esse é um assunto no qual eu não gosto muito de entrar.

4. O Hockey é o esporte nacional

Sem palavras

Sem palavras

Não adianta ganhar uma medalha na patinação ou no ski se a Seleção Canadense de Hockey não vencer, é exatamente como o futebol no Brasil. Agora imagina que a final olímpica de hockey foi disputada entre Canadá e Estados Unidos e foi a última medalha a ser decidida. Imagine que a última disputa da olimpíada Rio 2016 será a final do futebol e em campo estarão Brasil e Argentina; acho que você captou a cena.

Depois de estar ganhando o jogo e ceder o empate faltando 24 segundos para o fim da partida o time do Canadá foi pra cima e fez um gol na prorrogação ganhando a medalha de ouro, que somou-se à outra medalha de ouro ganha pelo time feminino.

Resumindo: apesar de hoje ser segunda-feira, todos os canadense estão felizes.

Contabilizando

Equipe canadense de curling - medalha de ouro

Equipe canadense de curling – ouro

De um modo geral a maneira de torcer daqui é muito parecida com a dos brasileiros, mas não igual. A principal semelhança é o desejo de se afirmar como potencia através do esporte e a principal diferença é que as pessoas e principalmente a mídia não fazem disso ma questão de vida ou morte. No Brasil, a pressão sobre os atletas é muito maior, mesmo estes tendo menos apoio. Os atletas brasileiros também colocam muito mais pressão sobre os seus ombros. Se no Brasil só vale o primeiro lugar, por aqui os atletas são respeitados mesmo quando o resultado é um quarto ou quinto lugar, apesar da decepção de perder a medalha.

No final das contas esta difícil dizer se o pódio canadense eu não sei. Mas o país terminou com o maior número medalhas de ouro da história da competição, ganhando o ouro em alguns esportes importantes – do ponto de vista do Canadá, claro:

Dança no gelo

Dança no gelo

  • hockey masculino e feminino
  • patinação de velocidade com a vitória no revesamento feminino e algumas medalhas individuais,
  • patinação artística na categoria dança no gelo – com o simpático casal da foto ao lado;
  • curling masculino – o feminino ficou com a prata;
  • bobsleigh feminino – dobradinha canadense, ouro e prata;
  • snowboard e ski;

Pelo atual critério de classificação o que conta é o total de medalhas, desta forma os Estados Unidos ficaram em primeiro seguidos por Alemanha e Canadá. Pelo antigo critério de contar o número de medalhas de ouro, a situação muda e o Canadá fica em primeiro com 14 medalhas contra apenas 9 dos Estados Unidos que cairia para terceiro. Os sites aqui na América do Norte contabilizam o total de medalhas enquanto portais no Brasil como Terra, UOL e Globo.com colocam o Canadá no topo pelo maior número de medalhas de ouro. Pelo ponto de vista da imprensa brasileira, os canadenses podem dizer: “O pódio é nosso!”.

Quadro de medalhas do terra

Quadro de medalhas do Terra mostrando o Canadá em primeiro lugar

Quadro de medalhas do canoe.ca

Quadro de medalhas do site Canoe.ca mostrando os Estados Unidos em primeiro lugar

3 opiniões sobre “O pódio é nosso!

  1. Eu me lembro que os EUA (e o Canadá, pelo visto) começaram a contar o total de medalhas e não os ouros depois que eles foram passados pra trás nos jogos de Pequim … aonde eles tinham mais medalhas mas menos ouros …
    No Brasil e na Europa inteira vale o “jeito certo”, que é contar os ouros, depois pratas e depois bronzes.
    No meu entendimento, o Canadá ficou em primeiro, ainda mais depois de bater o recorde de ouros.

    • É verdade.. pesquisei sites de jornais na Europa e até na Austrália e todos ainda contam as medalhas do jeito antigo. Mas o site oficial das olimpíadas conta o total de medalhas sem levar em conta o tipo, como os fazem os americandos e candenses. É tudo um jogo de insteresses….

  2. Alguém com o nick: “no tucupi” escreveu:

    “depois de ler mil blogs de emigrantes, eu cheguei a conclusão que ninguém tem informacao nova ou original!”

    Ok. Obrigado pela informação.

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