Mudando de realidade

Você provavelmente ficará assim

Típica québécoise com filhos

Eu jurava que não ia escrever sobre pensamentos e sentimentos pessoais, mas  não chega a ser um desabafo e sim uma troca de idéia.

Me peguei pensando essa semana como as pessoas conseguem manter a vida no seu curso normal,  a casa organizada, a roupa em dia, levar e buscar os filhos na escola e ainda por cima trabalhar e estudar. Sim, porque aqui a cultura é de muito estudo e investimento em conhecimento. Grande parte da mulherada que conheço tá estudando, seja o idioma, um curso superior, mas na verdade conheço uma galeeeera que tá no mestrado e ainda quer mais, rumo ao doutorado sendo esse o curso natural da coisa. Quem para os estudos antes é exceção… gente, é uma loucura.

Vou me apresentar: meu nome vc já sabe, tenho 33 anos e dois filhos lindos e cheios de vida, casada com o Sr. blogueiro do pedaço há treze anos.

Realidade Anterior

Mamãe tempo integral, dando tempo nos estudos e realizadíssima em dedicar todo tempo pra pôr os pequenos em ordem e manter o bom andamento da casa  com a ajuda de diarista três vezes por semana e escola pra mais velha de meio período. Ah, tb tinha babá pra cuidar dos babys pra  poder estudar francês à noite, três vezes por semana, pra viabilizar nosso projeto. Patricinha de plantão sim muito obrigada…gostava de passar minhas tardes no parquinho com o bebê e depois dar umas voltinhas no shopping,  ir no salão uma vez por semana dar um jeitinho no visual… ehhh vidão.

Realidade de primeiro semestre em Montreal

Mamãe voltou a trabalhar fora por um tempo, filhinhos na garderie, mamãe voltou estudar francês de noite, todo os dias. O dia começa às 6h45 pra dar tempo de cozinhar o almoço que a filhota leva pra garderie – tem comidinha boa lá mas somos vegetarianos e tem carne no menu dia sim dia não, então eu mandava de casa nesses dias – com o detalhe que a gente não tinha carro e as garderies das crianças eram em lugares diferentes, tipo coisa de pegar dois ônibus e um metro, até fácil se não estava chovendo, perto também, mas bem pesado.

Imagina ir no supermercado com os dois a tira colo e com o carrinho de feira pra trazer as coisas nos dois ônibus sempre cheios. E pra lavar a roupa, não é só ir ali na área de serviço do lado da cozinha, imagine sair do apartamento, descer um lance ou dois de escada, pôr a máquina pra encher e colocar sabão, subir pro apartamento e esperar 15 minutos, descer de novo pra pôr o amaciante, subir de novo, descer de novo pra pôr a roupa na secadora, subir de novo, dali mais 15 minutos descer de novo pra buscar a roupa seca..nossa me cansei só de pensar em subir e descer tudo isso…

Ok, vamos ao que interessa: como esse povo que mora desse lado do mundo faz as coisas dando conta da casa, do estudo, de dar atenção pra família, cozinhar e trabalhar etc…tô descobrindo, quer saber?

  • Minhas amigas que têm filhos aqui ligaram o “desencana da casa e vamos levando”, tem brinquedo espalhado pela casa sim! E na de todo mundo tem tb;
  • Passar roupa é coisa do passado – sério o povo não passa roupa mesmo – só as camisas mais socias e roupa mais fina o que é raro porque todo mundo trabalha com roupa bem informal o mais sofisticado é camisa e calça… pouquíssimos ambientes exigem terno ou social completo – confesso que ainda não consegui aderir ao costume, gosto de camiseta passadinha…mas meu cesto de roupa de passar vive lotado;
  • Aqui é um absurdo uma mãe que tenha um bebê de seis meses que não vai  pra garderie, detalhe que o horário normal é das 7h30 às 17h30 – gente, tenho muita pena. É muito tempo pra uma criancinha pequena. Se vc não tem opção ok, tem que trabalhar ou estudar, mas enfim…mas a mamães deixam os pequenos lá pra limpar a casa, cozinhar, ir na academia, no salão, no supermercado ou seja continuar a viver. Detalhe: se vc pensa em fazer essas coisas em meio período e colocar na garderie part time esqueça, no papel existe mas na prática não;
  • Muito raro alguém comer fora todos os dias, o chique é a esposa ou vc mesmo fazer comida em casa e levar numa sacolinha térmica super fashion que nada mais é que uma linda marmita. Mas o povo tb se vale muuuito de comida congelada e pratos prontos, tem arroz de 5 minutos. Aliás, é o mais gostosinho e parecido com o Tio João, eu aderi;
  • Esqueça que vc tem aquela tia pra deixar as crianças e ir no cinema ou a vovó pra deixar no domingão de tarde e ter algum tempinho pra organizar as ideias, aqui é vc e seu esposo e olha lá! Querendo vc arruma uma amiga que topa ficar com os pequenos mas claro que vai te custar $15 por hora porque aqui nem relógio trabalha de graça;
  • Faxineira existe tb, mas custa 25 dólares POR HORA, se vc é freguesa regular pode baixar pra 15 por hora, mas cá pra nós, eu não consigo encarar…é caro. E no nível da coisa é bemmm diferente, esqueça o padrão jogar água e sabão e aceite o spray com papel toalha.

Enfim, ainda estou me adaptando, meus níveis de exigência hoje são muito diferentes e quer saber, aprendi que simplicidade é tudo, não me importo mais se não deu tempo pra pintar o cabelo e aparecem alguns branquinhos aqui ou ali, se eu to combinando a roupa direitinho – a moda é tão peculiar que merece um post – ou se não deu pra fazer a mão. O que vale é fazer o melhor, dar comida pra todo mundo e tentar administrar o resto.

Dicas para os que vierem depois

  • se preparem…

7 opiniões sobre “Mudando de realidade

  1. uau, que baita loucura. parece ao mesmo tempo aterrorizante e tentador. não sei como será pra mim, mas como ainda não tenho nenéns humanos (só felinos) devo prosseguir nessa de trabalhar e estudar, como fiz muito por aqui um tempo.
    boa sorte e não arranque os cabelos!
    🙂

    []s
    p

  2. A realidade aqui é beeem diferente da do Brasil. Uma vez eu falei com uma amiga daqui sobre esmalte e alicate de unha e ela disse: “Aqui vc não vai ter tempo pras suas unhas”. E é a mais pura verdade. Chegamos a um mês em Montreal e já estamos sentindo toda essa diferença, e olhe que nem temos filhos ainda. Mas quem mandou imigrar, né? A cultura é diferente, os hábitos são outros, e a gente acostuma sim. Todo o resto vai valer a pena =)

  3. Sandro

    Muito legal o seu trabalho.
    Parabéns. Para nós que estamos aqui na expectativa de uma breve partida e das coisas por vir, suas informações servem de alento e até refresco.

    Grande abraço,

    Eduardo/Evelin

  4. oi Adriana,
    esse post foi muito bom pois mostra a realidade das mulheres.
    Estou me preparando pra ir pra Québec não sei qual cidade ainda, mas já to vendo o q me espera rsrsrs
    tenho um filho pequenininho, e também deixei de trabalhar pra cuidar dele (muito feliz com isso)e tb tenho uma pessoa q me ajuda 3 vezes por semana nas coisas da casa. Nem cheguei ai ainda mas já estou ficando de cabelo em pé. rsrsrs
    vc sabe qual o procedimento pra licença maternidade aí? e qto tempo é?
    bjs
    Tudo de bom!
    o site é ótimo e muito informativo.

  5. Hola Adriana, como estas???
    Eu me chamo Angela, sou casada com um ecuatoriano chamado Carlos Antonio e temos um filho de 7 anos chamado Carlos Andres. Encontramos o blog de vcs na net, e desde de ontem estamos lendo. Inclusive quero parabeniza-los esta muito bom, pelo menos pra nós…rsrsrs
    Estamos esperando o pedido dos passaportes para nos darem os visto de imigraçao, mandamos os exames medicos faz um pouquinho mais de 1 mes..espero que logo nos mandem.
    Eu sou de Guarapuava, meu filho de Curitiba, onde vivemos 10 anos e meu marido eh ecuatoriano…
    Atualmente vivemos no Ecuador a 2 anos na cidade de Guayaquil, entao jah estamos a costumados a dolares e aqui eh muito caro tudo…rsrsrsrsr Pelo menos, nao vou me assustar com os preços dahi…Vcs tem Skipe, msn, orkut ou facebook?
    Gostariamos de no comunicar com vcs ainda que por meio virtual e depois mais tarde por meio real…que vcs acham?
    Obrigada
    Angela Rosoha Alvarado

  6. Olá Adriana!

    Sou amiga de infância do Sandro e estou adorando ler o blog de vocês. Além de dar boas risadas estou tentando aprender com a experiência que vocês tem relatado.

    Olha, eu moro em Goiânia, mas eu tenho uma vida bem parecida com a sua. Muita correria, pouco tempo sobrando, trabalhando o dia inteiro, deixando o filhote no berçário ainda com uns resquícios de culpa, mas levando a vida.

    Também já mudei muitos conceitos com a chegada do meu filhote que já tem 2 anos e 4 meses, mas sempre bate aquele remorso de deixar o pequeno o dia todo numa escolinha/berçário. Paciência! Se quisermos estudar, crescer, investir, enfim, nossos filhos são obrigados a entrar no “esquema”.

    Um abração,

    Alessandra

  7. Olá Adriana, tudo bem?
    Muito obrigada por suas descrições.. Ainda estou bem no comecinho do processo, para ser sincera, ainda no processo de”decisão”. Tenho lido bastante o blog de vocês e tem ajudado muito.
    Gostaria de compartilhar uma coisa e se você puder me responder ficarei muito feliz:
    A princípio, quando se fala em “imigração” pensamos que tudo por aí será maravilhoso e que a vida será bem mais tranquila.. Quando li que o você escreveu sobre como era sua vida “antes” aqui no Brasil e “depois” quando você estava aí no Canadá, vi que sua vida mudou bastante, mas também fiquei pensando que isso poderia ser porque vocês estavam no começo da vida aí no Canadá. Gostaria de saber se depois destes 3 anos, você considera que sua vida esteja melhor do que aqui no Brasil.. Ou seja, tenho receio de mudar tudo e minha vida aí “empatar” com a daqui.. afinal, aqui não tenho uma vida ruim… como você disse, tinha uma vida de “patricinha”rs e depois passou tanto sufoco..
    Eu não me importo de batalhar, passar sufoco também, mas almejo que isso seja um trampolim para uma vida melhor que a que eu tenho aqui hoje, entendeu?
    Na verdade, penso que ir para o Canadá será um investimento muito bom no futuro de minhas duas filhas (12 e 14 anos).
    Desculpe o desabafo… mas gostaria muito de sua opinião.
    Obrigada! Forte abraço!
    Juliana

Deixe uma resposta

OU COMENTE USANDO O FACEBOOK