Depois de fazer o teste teórico, conforme relatei anteriormente no post Tirando a Carteira de Motorista, chegou a hora de fazer o teste prático. Interessante é que isso nos traz uma certa injeção de juventude, a última vez que passei por isso foi a mais de 15 anos atrás.

Parece óbvio que após aprender a dirigir no trânsito caótico do Brasil e com tanto tempo de experiência o teste seria sopa no mel, não? Não!!!

Vou contar a história desde o começo e explicar como funciona esse processo. Brasileiros com carteira de motorista do Brasil precisam fazer os testes teórico e prático. No entanto não precisam passar pelo período de aprendizado de um ano.

Após passar na prova teórica há duas opções: tirar a carteira de aprendiz ou não. Se expirou o tempo para usar a carteira brasileira no Quebec (3 meses) e você tem interesse em fazer auto-escola ou simplesmente dirigir um carro emprestado é necessário emitir a carteira de aprendiz. Sendo que você não pode dirigir a não ser acompanhado de um motorista com experiência no Quebec. A carteira custa cerca de 40 dólares, então, decidi não tirar. Imaginei que o ideal seria tentar uma vez e se não passasse então faria a carteira para ter aulas.

Para evitar os gastos com as aulas recorri à ajuda dos patos que vieram no verão passado e que me disseram o que é realmente diferente por aqui:

• Placa de pare – é para parar mesmo, antes da faixa ou se não houver faixa, um metro antes da placa;
• Velocidade – no circuito tem avenidas, ruas pequenas e zonas escolares, não descuide do velocímetro;
• Ângulo morto – ou como o avaliador chamou: “o ângulo da morte” – maior dificuldade para o brasileiro, consiste em virar-se para olhar atrás e checar aquela região não alcançada pelos espelhos, toda a vez que for virar ou mudar de faixa;
• Sinalização – as placas e os semáforos que piscando em verde ou vermelho são as principais diferenças – mas é preciso aprender isso para passar no teste teórico, agora é só colocar em prática;

Pronto para fazer a prova falta uma questão: o carro. Optei por alugar um carro próprio para o exame. Há algumas locadoras indicadas pelo SAAQ que cobram o valor tabelado de 40$ para o exame. O aluguel tem que ser feito com antecedência, o carro já está no local do exame e é necessário apenas levar o recibo na hora da prova. A outra opção seria levar um carro emprestado de algum amigo, mas isso é complicado pois eles fazem uma inspeção completa para aceitar o carro.

Antes de começar o exame, o funcionário que me atendeu teve ainda que emitir uma carteira de aprendiz provisória, gratuita, válida apenas para o teste – afinal a lei obriga a ter um documento de habilitação para sair com o carro no meio da rua, mesmo que este seja apenas um papel recém saído da impressora. E lá fui para o exame, um pouco tenso mais com os nervos controlados.

Enquanto eu fazia o check-up de posição do banco e dos espelhos e colocava o cinto o avaliador explica o que seria o exame. Disse que era uma questão de pontuação e que eu não poderia envolver em nenhum acidente pois seria reprovado – óbvio. Saí como carro calmamente parei num pare ainda dentro do estacionamento e peguei a Boul. Henri Bourassa. Apesar de alguns trechos do circuito estarem em obras, tudo ia bem até o maldito sinal amarelo.

Atencão semafóro a frente

Na verdade o meu maior medo no teste era esse, o tal do sinal amarelo que muda de uma hora para outra e você não sabe se vai ou se para. E o meu medo se confirmou. Eu estava esperando a minha vez para virar à esquerda em um sinal verde piscante, olhei todos os espelhos e ângulos mortos do mundo e acelerei. O carro automático tem um tempo de reação mais lento e quando o carro começou a andar o sinal ficou amarelo. O que um brasileiro faz no sinal amarelo? Acelera! Mas o carro não andou, o avaliador estava freiando o carro com o freio do lado direito (esses comandos duplos que têm nos carros de autoescola).

Lá veio o sabão: “você não pode sair quando o sinal está amarelo!” e eu pensei “mas estava verde quando eu decidi sair, ficou amarelo na hora H!” mas preferi falar “vous avez raison”. Depois da injeção de adrenalina nem sei direito o que aconteceu, voltamos para o estacionamento da SAAQ – atenção as placas de 20 km/h – fiz a baliza, estacionei o carro e instrutor disse “vamos agora à sua avaliação”, “pas bon” respodi eu.

Aí ele falou que eu dirigi muito bem exceto por um outro erro como aquele do sinal amarelo e lascou bronca de novo – “mas isso não vou levar em conta, você passou” – disse ele. Então tá então, demorei uns 15 minutos para me acalmar e ainda bem que não saí com os olhos esbugalhados na foto da carteira.

Dicas para os que vierem depois

Temperatura do estômago na hora da prova

• Se você puder gastar um pouco mais de dinheiro e tempo, faça uma aula prática, é bom para conhecer a região do circuito;
• Tire a carteira ainda nos 3 primeiros meses, isso permite que você alugue um carro com a carteira do Brasil e treine o jeito de dirigir do Quebec; Sai mais barato que a aula e você não precisa tirar a carteira de aprendiz;
• Fique tranquilo, não é tão difícil passar mesmo que você cometa algum pequeno deslize, mas cuidado com os vícios pois estes podem acumular pontos negativos e te reprovar;
• Todas as placas inseridas nesse post são placas válidas no Quebec;
• Cuidado com o sinal amarelo!!!