Atenção! Este é um post antigo, fatos e informações podem estar defasados.
Vida de recém chegado em país estrangeiro não é fácil, você chega como um “João Ninguém” sem CPF, sem RG, sem direito de acesso ao sistema de saúde, etc, praticamente um indigente. A maioria dos documentos você tira facilmente dependendo apenas de uma burocracia básica. Mas para fazer a carteira de motorista do Quebec é necessário passar nos testes. E aí se torna um desafio.
Dia 29 de julho fiz meu teste teórico, a primeira parte do processo. Mas acho melhor explicar um pouco como esse processo funciona. Se você já tem uma carteira de motorista de outro país, você pode fazer a troca da carteira. Motoristas de países como Japão, Bélgica, França, Alemanha, etc… podem simplesmente ir até a SAAQ (o detran daqui) e trocar pela carteira local. Ah, você veio do Brasil? Então não é tão fácil assim.
O processo normal do Quebec para emitir uma carteira de motorista inclui:
- um rendez-vous para abertura do processo;
- um teste de vista;
- uma prova teórica;
- 12 meses como aprendiz*;
- um teste prático de direção;
- 2 anos com uma carteira proviória (permis probatoire);
- carteira de motorista definiva;
Os itens de 1 a 3 podem ser feitos no mesmo dia. O item 4 pode ser anulado se você comprovar que dirige no Brasil há mais de 1 ano, para fazer essa comprovação é necessário traduzir a carteira de motorista brasileira. O item número 6 é dispensado se você tem mais de 25 anos.
A prova
Então eu fui até a SAAQ Para completar os passos 1,2 e 3; documentos originais em mãos e algumas horas de estudo na cabeça. A prova teórica é feita em um computador com tela EGA (algo saído dos anos 80) e consiste em 16 questões sobre sinalização, 16 questões sobre regras de segurança e 32 questões sobre técnica de condução. É necessário acertar 75% de cada um dos três assuntos. Se você não atingir 75% em uma das seções da prova pode refazer, mais tarde, apenas a parte que falta.
As questões variam do banal ao capcioso mas de modo geral eu não achei difícil, talvez porque tenha estudado bastante. Sei de várias pessoas que não passaram e acho que o desafio principal é entender algumas diferenças nas leis de direção e, acima de tudo, entender o raio da pergunta já que o teste é feito em francês ou inglês. Comprei – e li – o livro acima o que me ajudou muito e fiz os simulados no computador. Lembrem-se que o vocabulário típico de trânsito é meio desconhecido para nós semi-francófonos.
Errei algumas questões mas passei. O único problema é que a minha tradução da carteira ainda não está pronta. Mandei fazer no Consulado do Brasil em Montreal e eles pediram 7 dias para fazer o serviço. Ou seja, semana que vem volto lá para marcar o exame prático. Até lá preciso decidir se vou ou não fazer aulas de direção, pois nesse caso preciso para a taxa de emissão da carteira de aprendiz que custa 45$. Quando fizer o teste prático escrevo para contar como foi.
Dicas para os que vierem depois
- A carteira de motorista do Brasil é válida para o recém chegados por 3 meses, nesse tempo você pode alugar um carro com ela ou até mesmo fazer aulas na aulo-escola.
- A tradução da carteira de motorista pode ser feita no consulado brasileiro, demora um pouco e custa 27$. É um pouco mais barato do que tradutores juramentados e você tem a certeza de que a SAAQ vai aceitar a tradução. [Nota: não sei se tradução do consulado ainda é aceita, vale a pena conferir junto à SAAQ]
- As regras de trânsito do Quebec e principalmente a sinalização são diferentes daquelas encontradas no Brasil. Portanto estude para passar nos exames teórico e prático.
- Comprei o livro de estudo em uma livraria com 19$, para mim valeu a pena. Lembrando que cada tentativa do teste teórico custa 10$.
- Ao passar no teste prático você será “convidado” a pagar a taxa de emissão da carteira de aprendiz; se você não tem intenção de fazer aulas de auto-escola você não precisa da carteira de aprendiz.
- Acesse o site da SAAQ para saber mais sobre o processo.
Exemplos de detalhes de direção no Quebec
- Se você encontrar uma placa vermelha octogonal onde se lê ARRÊT ou STOP (ou PARE no Brasil) é para parar mesmo! Nada de dar uma olhadinha e passar reto, “dê a preferência” é uma outra placa. Vá treinando no Brasil…
- Quando o sinal verde está piscando você tem preferência para virar à esquerda numa avenida;
- Em quase todo o Quebec é permitido virar a direita mesmo se o sinal estiver fechado, em Montreal não é permitido;
- Os ônibus escolares amarelos são veículos míticos e sagrados. Mantenha-se a uma distância mínima de 5 metros e tudo ficará bem;
- Se um ônibus do transporte público quer sair do ponto e voltar para a circulação ele pode, por lei (é serio), te fechar – ou jogar o ônibus em cima de você na prática – pare e deixe-o passar.
- Você não pode consumir álcool antes de dirigir, dirigindo, no banco do passageiro, no banco de trás, nem se o carro estiver estacionado é permitido consumir álcool dentro dele. Faça como eu, não beba!
- Aqui você pode ultrapassar mesmo se houver uma linha dupla amarela! Desde que o carro da frente seja um veículo agrícola e você tenha visibilidade suficiente;
- O pedestre sempre tem preferência;
- Os ciclistas sempre têm preferência;
- Os ônibus coletivos e escolares também têm preferência;
- Quem chegou primeiro no cruzamento tem preferência;
- Quem está a sua direita tem preferência;
- Calma, quando não houver mais ninguém na rua, aí é a sua vez.
Post muito bom! Muitíssimo grato, eu estava em dúvida quanto à traduçao da carteira, mas agora tá bem explicado 😉
Encontrei muitas similaridades entre a legislação da cidade de Quebec e a brasileira. A primeira delas é “Quando uma via não tem sinalização, a preferencia é de quem vem a direita”, ônibus escolares, ônibus de transporte público, ambulância, viatura policial, todos eles tem que ter preferencia no trânsito, é uma questão de educação. Eu quero um trânsito onde, quando uma placa indicar 40 Km/h os motoristas conduzam seus veículos dentro dos limites de velocidade. Existem diferenças, mas não parecem assustadoras.
Sim existem similaridades e as diferenças estão nos detalhes, mas são os detalhes que pegam na prova teórica. Já na prova prática, existe a questão do shoulder-check que é algo que nós absolutamente não temos no Brasil.
Já no dia a dia, aqui nós paramos nas placas de param, não passamos os ônibus escolares com sinais piscantes e ao virar à esquerda ou direita, esperamos primeiro os pedestres. Isso é bem diferente da condução do Brasil.